O anti-post

Quem assina a Mundolândia por email recebeu hoje o aviso de um post que não está mais aqui – sofreu autocensura.

Amanhã tem mais.


Raízes

Mesmo depois de 10 anos em Brasília, sempre que alguém me pergunta de onde sou, não tenho dúvidas: Fernandópolis, onde vivi dos 3 aos 17 anos. Mantenho o sotaque puxado, não transferi meu título de eleitor, não troquei a placa do carro. Não mudei o jeito meio bronco, direto, de gargalhada alta, ainda que o ambiente exija modos – em Brasília, toda aparências, quase sempre.

Quando pequena, meus avós moravam em uma chácara nas cercanias, o meu Sítio do Pica Pau Amarelo. Me empoleirava no tronco da goiabeira, corria atrás das galinhas, fazia expedições nas plantações e no pasto. Aí veio a adolescência, outras prioridades, a mudança para Brasília. Meus avós voltaram para a cidade.

Depois de adiar mais que devia, ontem voltei lá. Foi uma lufada de emoções passar pela estrada de terra onde tantas vezes andamos de bicicleta. Avistar o riozinho onde descíamos para pegar argila. Sentir o cheiro de terra, pasto e fogão de lenha. Rever os amigos do sítio vizinho cuja maior riqueza é a simplicidade.

Nós até podemos sair do interior, vestir personagens, desbravar o mundo. Mas o interior, ainda bem, não sai da gente.

Meu jardim de Giverny

Meu jardim de Giverny


Uma historinha

Quando cheguei, ela já estava lá. A copa apertada do albergue ecoava o riso alto e a conversa desinteressada daqueles que certamente passavam pelos melhores momentos da vida. Bebiam, comiam, falavam, flertavam. E ela continuava no canto, observando tudo com um olhar de quem já sabe. Era o peixe exótico do aquário.

Atraída por aquela figura e incomodada com o excesso de juventude à minha volta, fui até lá. O rosto enrugado, emoldurado pelo cabelo branco curtinho, sorriu convidativo. “Deve ser funcionária do hostel”, pensei, “monitorando se alguém vai sair por Florença com uma jarra de vinho debaixo do braço”.

Tinha aquele sotaque britânico que eu amo. A senhora de quase 80 anos, na verdade, era hóspede. Queria viajar o mundo, mas passou a vida com o marido em Wales. Quando ele morreu (suspiro de saudade), não pensou que estava tarde demais para seguir seus sonhos.


Metalinguagem

Há um mês, minha releitura da Quadrilha drummondiana chegava por aqui. E com ela, a Mundolândia.

A idéia do blog veio quase junto com a da viagem, mas aí fiquei meio sei lá. Afinal, aonde alguém ainda não foi? O que ainda não foi dito? Vivo uma relação tensa com a overdose de informações repetidas/insignificantes que brotam por aí. Mesmo quando o conteúdo é indiscutivelmente bom, dou uma caetaneada ao pensar no global e me pergunto quem lê tanta notícia.

Aí lembrei que, quando escolhi jornalismo, queria achar histórias onde ninguém procurava. Queria dias para apurar, horas para escrever. Só fui saber depois que esses eram itens de luxo no hard news online de Brasília. E pelo menos aqui neste espaço, pelo menos neste ano, eu poderia colocar essa visão boba e romantizada em prática.

Sobre o fato de ser mais uma, lembrei que mesmo com a enxurrada de ótimos canais de moda/consumo, meu preferido é aquele blog despretensioso da menina que ficou um ano sem comprar (alô Joanna!). Ok, tem muitos sites incríveis de viagem por aí, mas eu não quero ser incrível não. Só escrever minhas coisas mesmo.

E ainda tem o contato amplo e permanente com os amigos que torceram para essa viagem sair do papel. E quem sabe até uma ajuda para quem chegar precisando de algo.

Vai Mundolândia! ser solta na vida.


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Ainda no esquema corra que a viagem vem aí (RIP Leslie), percebi ontem que as transações monetárias do próximo ano foram relegadas ao esquecimento. Isso faltando duas semanas para o desembarque em Delhi. Risos.

show-me-the-money

O bom de ser só mais um blog de viagem é que o assunto já foi esquadrinhado pelos papas da categoria. Um dos que confio de olhos semicerrados é o viajante profissional Ricardo Freire. Dá uma olhada no strike que ele faz sobre o assunto em apenas um post.

Nas férias, eu sempre levava a dupla extorsiva dinheiro vivo/cartão de crédito por pura preguiça de pensar. Dessa vez, tomei vergonha na cara e montei o seguinte esquema: cartão vinculado à conta do banco só no débito + segundo cartão de outro banco/bandeira só no crédito + cartão pré-pago + dinheiro. O foco está no cartão do banco ativado para saque/débito no exterior, como o Freire recomenda aqui. Meu banco também esclareceu melhor como funciona essa história (itens 7 a 11).

A inteligência recomendou levar cartão pré-pago, desses VTM e Cash Passport, com bandeira diferente do cartão do banco caso este dê zica. O bom é que os pré-pagos podem ser recarregados já no exterior, quando o aperto se aproxima, com saldo em 24 horas. (Atualização em 1 de outubro: acabei de descobrir que o pré-pago só tem vantagem se for usado na moeda dele (dólar, euro ou libra, por exemplo). Com as moedas da Ásia, cada transação da moeda local  para dólar é sobretaxada entre 3% e 5,5%. No banco , a taxa é de 1%. Quer dizer, o pré vai ficar mais para apoio mesmo. Outra descoberta: taxa de saque no pré-pago 2,5 dólares; taxa de saque no BB 12 reais).

Deixei o cartão de crédito assassino do IOF para compras online e emergências em lojas e caixas eletrônicos. O dinheiro em cash ficou para o dia a dia da rua.

Próximo!


Implacável

Devo sofrer de algum lapso temporal. Tenho certeza de que minha mente enxerga o tempo como um conceito elástico – veja bem, justamente das coisas mais inexoráveis dessa vida.

Sou do tipo que acha que dá para fazer mil atividades em dez minutos. Se tenho algo marcado dali a alguns dias, está sempre muito longe ainda. E me surpreendo, de ficar espantada mesmo, quando concebo que a véspera chegou.

Guardadas as devidas proporções, hoje me veio esse susto da véspera. A véspera das duas semanas. Quando postei que faltava um mês, estava bem calma, ainda tinha muito tempo para resolver questões práticas e emocionais. Mas agora são apenas 15 diazinhos para dormir e acordar no Brasil. Daqui a duas quartas-feiras, a essa hora, já estarei no avião.

Feliz? Diria apreensiva.


Seguro-viagem: and the winner is…

Sobrou pra ele. (Ohio Health Insurance / Creative Commons)

Sobrou pra ele. (Ohio Health Insurance / Creative Commons)

O enigma do seguro-viagem terminou só no terceiro dia, já na última empresa da lista. A dica é persistir, minha gente, que o negócio vai.

Fiz simulações em 15 seguradoras nacionais e internacionais. Entre os bancos, só acionei o do Brasil, onde tenho conta, e não tive resposta (atualização abaixo). Confesso que fiquei com preguiça de ir às demais agências, pois fiz tudo pela internet (não orcei na Mapfre porque não encontrei a cotação online).

É bom lembrar que variações nos destinos e na duração da viagem podem mudar a lista de favoritos. Os detalhes das coberturas são muitos, e meio parecidos, então foquei em três critérios: cobertura médica total, preços e exigência de franquia.  A maioria das empresas tem reclamações, não adianta fugir. Eis o esquema mastigado:

World Nomads – recomendada pela Lonely Planet, 1070 dólares com uma ótima cobertura. Era minha favorita até chegar às letras miúdas: parece que do ano passado para cá, incluíram uma franquia de 100 dólares por evento, prejudicando os casos de menor gravidade. A vantagem em relação às outras é a cobertura de 100% por evento. Ou seja, se precisar gastar 250 mil dólares de uma vez em uma emergência no hospital, deusmelivreguarde, eles cobrem. O teto global é de R$ 5 milhões.

Isis – Também querido pelos mochileiros. Por 1359 dólares dá para contratar uma cobertura de 50 mil dólares por evento. Ou seja, saiu do hospital, o saldo devedor zera. É o mesmo esquema de várias empresas.

Assist-Card –  Tem um teto de gastos. No plano que eu compraria, de R$ 2,6 mil, o valor de assistência por evento é o mesmo do global: 50 mil dólares. Ou seja, não zera de uma internação para outra.

Cardinal Assistance – 50 mil dólares por evento por R$ 2581. Assim como a anterior, o teto global é o mesmo do valor por evento.

Sul América – 50 mil dólares por evento, a R$ 7,6 mil.

Travel Ace – 25 mil dólares por evento, a 2133 dólares.

Mondial – Faz seguro para quatro meses, no máximo.

Vital Card – 50 mil dólares por evento, a 1038 dólares. Tinha simpatizado, até perceber que não inclui seguro por extravio de bagagem, por cancelamento de viagem, nem despesas por atraso de voo.

CI – 50 mil dólares por evento, a 1129 dólares.

GTA – 50 mil dólares por evento, a 1178 dólares.

MIC Brasil – 50 mil dólares por evento, a 1234 dólares.

Touristcard – 50 mil dólares por evento, a 1350 dólares.

Banco do Brasil – 50 mil dólares por evento, a 1536 dólares.

Travel Guard: não aceita o Brasil como residência.

Medex Assist: fraco na parte aeroportuária, exige franquia.

Finalista: Porto Seguro. Por 1637 reais (reais), tem plano de 50 mil dólares por evento no caso de doença. Para acidentes, minha maior preocupação, o valor sobe para 100 mil dólares por evento. A cobertura dos detalhes parece ok.  Debulhei o contrato procurando a pegadinha, e aparentemente não tem. Oremos.

Quando eles já tinham ganhado minha atenção, outros fatores muito pessoais pavimentaram a escolha: o atendimento em português (na hora do perrengue é essencial, vai), a experiência de anos com a Porto pelo seguro do carro e constatar que meu padrinho querido, corretor credenciado, poderia ser meu elo com a empresa (juro que só lembrei disso no final, pois fiz todo o processo online).

Espero ter ajudado os que estavam tão perdidos quanto eu. Como disse aqui outra vez, aparecer nesse blog é faca de dois gumes. Se for bem, propaganda. Se for mal, faca no pescoço.

Fim da novela (ou do capítulo, vai saber).

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(atualizado às 16h34 do dia 24 para incluir a Cardinal Assistance)


Seguro-viagem, a missão (1)

401 k / Creative Commons

401 k / Creative Commons

Depois de dias penando entre números e tabelas, chego à primeira parte deste post. Porque ficar solto no mundo é maravilhoso, exceto quando nossa saúde está em jogo.

Primeiramente, queria falar da dificuldade de encontrar informações completas e atualizadas sobre seguros de viagem. Percebi que alguns blogs especializados têm limitações publicitárias, enquanto outros acabam orçando poucas opções. Como considero esse assunto dos mais sérios, achei melhor fazer uma varredura no mercado antes de decidir.

Já disse aqui que o seguro-viagem pode ser dividido em duas categorias. Donos de cartões de crédito poderosos, desses black e platinum, têm pré-cobertura. Pelo que entendi, dá para ativar o seguro por determinado tempo, desde que as passagens tenham sido adquiridas com o cartão. Não olhei detidamente o assunto porque não me encaixo nas regras, mas vale a pena contar com essa opção se for seu caso.

O outro caminho é contratar diretamente com as empresas de seguro. Devemos partir do pressuposto que ninguém está fazendo caridade.  Esse é um negócio como qualquer outro, com a exceção que envolve vidas. Nos sites de defesa do consumidor, percebi que grande parte das reclamações iam de encontro a itens previstos nos contratos. Então vale investir horas lendo e relendo cada linha, anotando e comparando, para evitar surpresas depois.

O resumo é que cada empresa tem suas vantagens e desvantagens, dependendo do perfil do viajante. Outro ponto é que não dá para se guiar apenas pelo preço. Claro que ele também é importante e foi um dos fatores decisivos, mas tem outras coisas que precisam ser consideradas, como limites de cobertura e serviços oferecidos.

Continua no próximo post.


Quiz do domingão

Hoje teve mais um daqueles eternos debates sobre a situação socioeconômica dos países do mochilão. Depois de reiterar que o Brasil não está tão distante dessas realidades, veio o desafio: “Então veja lá o IDH”.

A fórmula de cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano, usado pela Organização das Nações Unidas desde a década de 1990,  não é unânime entre estudiosos. Mas não deixa de ser uma régua para os 186 países analisados – e adoramos uma lista, vai.

Divido o quiz com vocês para embalar esse domingão preguiçoso de sol escaldante. Façam suas apostas (respostas depois do mapa).

Destinos, pela ordem: Índia, Sri Lanka, Maldivas, Nepal, Butão, Tailândia, Mianmar, Laos, Camboja, Vietnã, Malásia, Cingapura, Indonésia, Filipinas, China, Mongólia.

(Reprodução IDH 2012 UOL)

(Reprodução IDH 2012 UOL)

Posição dos países no ranking: 13º Hong Kong (China); 18º Cingapura; 64º Malásia; 85º Brasil; 92º Sri Lanka; 101º China; 103º Tailândia; 104º Maldivas; 108º Mongólia; 114º Filipinas; 121º Indonésia; 127º Vietnã; 136º Índia; 138º Laos e Camboja; 140º Butão; 149º Mianmar; 157º Nepal.


Oi, remédios!

Bota tudo no carrinho, moço. (KB 35 / Creative Commons)

Bota tudo no carrinho, moço. (KB 35 / Creative Commons)

Quase não tomo remédio –  fui criada na homeopatia, beijo mãe. Ainda assim, confesso que não viajaria tranquila sem uma farmacinha de respeito.

Não sou favorável à automedicação e vou acionar o seguro saúde sempre que necessário. Mas e na hora que não tiver médico? E na hora que não tiver farmácia? E na hora que tiver os dois, mas ficar cabreira de tomar algo desconhecido?

Para chegar a essa lista super completa que divido aqui, acionei médicos e tive a consultoria de luxo da minha irmã farmacêutica, beijo Maira. Como vou passar um ano non-stop na Ásia, achamos melhor sobrar que faltar, mas dependendo da duração da viagem e do destino, dá para cortar várias coisas (até porque essa precaução toda ficou meio cara).

1) Antibióticos (precisam de receita médica)
Infecção urinária e aparelho reprodutor. Ativo: cloridrato de ciprofloxacina. Uma caixa grande: R$ 199
Infecção de garganta e aparelho respiratório. Ativo: azitromicina diidrato. Uma caixa: R$ 15
Infeção intestinal. Ativo: cloranfenicol. Duas caixas: R$ 55
Amplo espectro.  Ativo: cefalexina monoidratada. Uma caixa: R$ 65

2) Antifúngico. Ativo: fluconazol. Uma caixa: R$ 80

3) Anti-inflamatórios
Dor de cabeça: (aquele de confiança) Vidrinho de 20 ml R$ 9,45
Dor muscular forte: (aquele de confiança) Uma caixa: R$ 7,50
Para associar com antialérgico em crise de alergia. Ativo: prednisona. Uma caixa: R$ 15
Dor de garganta ou no corpo. Ativo: meloxicam. Uma caixa: R$ 39,78
Antitérmico e anti gripal: (aquele de confiança) Vidrinho 20 ml R$ 15,63

4) Antialérgico: (aquele de confiança). Uma caixa: R$ 20

5) Antiácidos: Sal de fruta (seis envelopes R$ 8,50) e Pastilhas (R$ 19,35 a caixa). Para melhorar queimação constante: Ativo: omeprazol. Uma caixa: R$ 15

6) Antidiarreico: (aquele de confiança) Três caixas R$ 18

7) Restaurador de flora intestinal: (aquele de confiança) Três caixas R$ 75

8) Antiemético: (aquele de confiança) Uma caixa: R$ 6,50

9) Creme para irritações na pele: Uma bisnaga R$ 18

10) Pomada cicatrizante anti-infecção: Uma bisnaga R$ 10

11) Antisséptico: Um vidrinho 30 ml R$ R$ 9

12) Dor de garganta leve: Spray de própolis R$ 12

13) Repelente (com alto fator de proteção para evitar malária): R$ 28

14) Curativos e algodão

p.s.: posso mandar a lista completa com as marcas por e-mail, só pedir.