Sozinha

Hoje posso dizer que o maior estranhamento das pessoas não está na viagem em si, mas no fato de eu ir sozinha.

O argumento da segurança eu certamente compartilho. O Brasil está longe de ser o oásis da igualdade de gênero ou dos baixos índices de violência contra a mulher, mas sabemos como pode piorar lá fora.

Quanto a isso, só me resta seguir os conselhos que li e ouvi às toneladas: usar roupas largas, não olhar nos olhos, não andar sozinha à noite, não dar risada (!), não ser simpática (!!), andar com aliança, dizer que está indo encontrar seu marido, dizer que é professora. Resumindo: não ser eu.

Ok, eu posso vestir um personagem. O que não posso é deixar de ir por medo. A Flora, do ótimo Flora The Explorer, resume bem essa sensação:

“Violence against women is sadly something that occurs the world over. Whether in the cityscapes of a country you’ve never thought to visit, or on the street you grew up on, there will always be tragic incidences like this. But, as women, it’s up to us to face these situations head on, and accept that while there is danger and fear from outside, there is also strength and confidence from within.

Shying away is not an option when it conflicts with doing what you love.”

Isso dito, vem a parte do estranhamento das pessoas com a solidão por opção. Nos últimos anos, consegui viajar sozinha duas vezes, o que nem sempre é fácil quando precisamos atender as pessoas que amamos. Fiquei quase um mês na Bolívia/Peru, e depois duas semanas na Itália.

O mecanismo da coisa toda é meio bipolar. Ao mesmo tempo que ficamos uma esponja para as coisas de fora, é um intensivão de autoconhecimento e de testes para nossos próprios limites. Talvez por isso seja tão difícil pensar na ideia, mas vale o exercício.

Outro fato curioso é que a condição de estar sozinho é muito relativa. Em quase 80% do tempo estamos interagindo: com vendedores, guias, garçons, motoristas, pessoas no ponto de ônibus, gente almoçando na mesa do lado, amigos que fazemos pelo caminho… No final, estar sozinho acaba sendo um para-raio de atrair gente (boa, na grande maioria), e esse é um dos maiores bônus.

Acho que por isso Into the Wild foi um filme tão marcante. Mais que uma narrativa sobre um viajante solitário, ele mostra que as maiores experiências vêm do contato com pessoas que encontramos durante a jornada. E que a felicidade só é real quando compartilhada.

 

 

p.s.: inicialmente eu tinha colocado imagens dos melhores encontros do Into the Wild. Mas por que ficção se podemos usar a vida real, né?

 


Evitando ter um treco

vacina

Agora chega, né moço?

Bom, enquanto a dita cuja não chega, vamos falando dos preparativos.

Quando decidi ir para a Ásia, as questões de saúde começaram a piscar com luz neon na     minha cabeça. Quem quer passar mal em países desconhecidos, com doenças desconhecidas, sem saber direito como funciona o esquema médico? É isso.

Comecei a olhar tudo com antecedência de seis meses por três motivos cabais. 1) A agenda dos bons médicos não é tão liberada assim para consultas e retornos de exames (e vários exames demoram para ser marcados, especialmente os de imagem); 2) algumas vacinas precisam de um tempinho razoável entre uma dosagem e outra; 3) tinha que passar um pente fino entre os preços e coberturas dos seguros de viagem disponíveis no mercado (e nos feedbacks dos usuários pela internet).

Aos fatos.

Médicos: é interessante pedir ao profissional de maior confiança a indicação de remédios para fazer um kit básico e também as receitas para fazer estoque dos mais complicados, como os antibióticos. E é bom levar tudo em boas quantidades, pois cada país tem um esquema próprio de venda em balcão sem pedido médico. Em uma pesquisa rápida, vi que é raro um país tão automedicável quanto o Brasil.

Vacinas: o sistema público de saúde de várias capitais tem atendimento especializado aos viajantes. Você liga, marca uma consulta com um infectologista, e ele diz os cuidados que você deve tomar para ir a determinada região. Em Brasília, o Ambulatório do Viajante fica no HRAN (Telefone para agendamento: 3325-4362). A minha consulta foi ótima. Não houve espera e o médico era super preparado (não lembro o nome dele, mas tinha bigode!). É bom levar o cartão de vacinas, pois da consulta você já é encaminhado para vacinação na hora mesmo.

Seguro de viagem: quem tem cartão de crédito poderoso pode ter cobertura gratuita, o que não é meu caso. Ainda estou olhando as opções de mercado, mas a empresa que parece ser a queridinha dos mochileiros é a dinamarquesa World Nomads. A blogueira da Abril Adriana Setti já tinha feito um post sobre eles em 2008, e falou novamente quando precisou usar, em 2010. Fiz um orçamento no site e achei tudo bem simples de entender, com boa cobertura, mas continuo pesquisando.

Aviso aqui sobre a decisão!


Vamos?

Hoje de manhã, uma amiga querida mandou o depoimento de um casal brasileiro que deixou tudo para viajar pelo mundo. Na semana passada, outra história parecida circulava por aí.

É muito interessante a reação das pessoas quando descobrem que você é a personagem de um enredo como esse.

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Família francesa mochilando pela Bolívia. As “mochilas” nas costas são os filhos pequenos.

Metade pergunta como vai ser com uma cultura tão diferente, como vai ser com dinheiro, como vai ser com emprego na volta, como vai ser com segurança, como vai ser com família/namorado. Enfim,  preocupados/contrariados.

A outra metade suspira. Tenho ouvido muito “meu sonho era fazer um esquema desse, mas…”. Sempre tem um porém que nem preciso listar, pois eles todos estão aquicom os devidos contra-argumentos do ótimo Gabriel Quer Viajar.

Tudo indica que os brasileiros estão cada vez mais abertos a big trips, sabáticos e afins.  Basta ver os inúmeros blogs de viagem lançados nos últimos anos para ter a sensação de que, enfim, podemos nos preocupar menos com inflação e ostentação e mais com realizações pessoais dentro de um estilo de vida mais simples, algo que o pessoal de fora já descobriu há décadas.

Vamos?

 


These boots are made for walking

Qual acessório é mais importante para um mochileiro?

(pensa pensa pensa)

Bem, na minha modesta opinião, é o sapato. Ele que precisa dar o mínimo de alento ao pé que vai sofrer o ano todo carregando o peso da mochila e do corpitcho, o que não é pouca coisa.

Depois de ler MUITO sobre o assunto em mil fóruns na internet (digamos que espaçadamente nos últimos dois anos), cheguei à primeira conclusão importante. Não adianta querer o que não tem como testar antes. Se você nunca provou o calçado e vai comprar online, depois faz como se não gostar? Devolve? E os prazos? E quem garante que a próxima vai dar certo? E quem garante que foi mesmo a melhor escolha? Olha, já estou bem de preocupações para enlouquecer com mais esse assunto.

Partindo dessa premissa, fui pesquisar quais marcas têm loja ou revenda em Brasília. Juroportudo que depois de uma tarde inteira dedicada a essa tarefa, não achei quase nada de útil e com uma variedade atraente (se alguém sabia, babau).  A única coisa que me ocorreu foi a loja própria da Timberland (que está longe de ser uma unanimidade entre a comunidade mochilística da internet) e uma possível tentativa na Centauro que, para decepção geral, vende só essa mesma marca supracitada.

Já na loja hoje à noite, veio a segunda revelação: uma pessoa que vai passar um ano na estrada não tem condições de economizar justo no sapato. Cheguei a provar alguns modelos mais baratos, mas claro, o pé amou a rainha das botas (tecnologia exclusiva anti-fatigue? Tá bom, moça, vou levar).

Esse bem poderia virar um post jabá, mas ó, aviso logo que qualquer percalço vai virar denúncia nessas páginas.

botasOi, gente!

p.s.: para os interessados em saber as principais diferenças, vantagens e desvantagens entre papete, tênis, bota de tecido e bota de couro, o pessoal do Trekking Brasil explicou de forma bem simples aos não iniciados neste post aqui. Tem um videozinho que vale a pena assistir também.


2013

Maira terminou de pagar seu primeiro apê. Juliana ficou noiva na França e Renata está voltando da França. Luciana se casou, Luísa vai se casar, Lívia está investindo em uma nova vida no Rio de Janeiro. Ana Flavia e Isabel mudaram de emprego. Carol se libertou e fez uma big trip pela Europa. Patrícia está se mudando para a Inglaterra e Isabela se mudou para São Paulo. Gizella foi morar sozinha. Luana vai ser feliz na Argentina. Fernando, Amanda e Thaís foram promovidos.

E eu, bem, eu vou para a Ásia.