A Índia nossa de cada dia
Publicado; 02/09/2013 Arquivado em: Índia, Pré-viagem | Tags: Castas, Questões raciais 2 ComentáriosO lugar que deu origem ao Kama Sutra proíbe beijos em filmes. Abriga um dos homens mais ricos do mundo (o industrial Mukesh Ambani), mas é a casa de centenas de milhões que vivem muito abaixo da linha da pobreza.
Particularmente, vejo que o maior contraste da Índia está no fato de o país ser uma grande democracia, berço de filosofias lindíssimas, e manter um ainda rígido sistema de castas. Por mais que as castas baixas estejam conquistando espaço nas últimas décadas (sim, já existem dalits milionários!), a estrutura é milenar e as mudanças vêm a passos lentos, especialmente no interior do país.
O curioso é que hoje, enquanto lia o ótimo Os Indianos, da jornalista brasileira Florência Costa, me ocorreu que esse mesmo impasse está, de certa forma, bem na nossa porta. A democracia também é a regra por aqui e dizemos seguir uma filosofia que prega amar o próximo como a nós mesmos (86,8% da população brasileira é cristã, segundo o último censo), mas ainda temos uma questão racial muito mal resolvida.
Comparando lá e cá, trata-se da mesma porcentagem enorme de excluídos por nascimento (lá por casta, aqui por cor), que têm a mesma dificuldade para arrumar bons empregos que permitam subir na vida. É o mesmo histórico de humilhações. É a mesma demanda por intervenção do Estado para cotas no sistema de ensino e no serviço público. A diferença, de repente, é que lá as coisas são mais escancaradas.
p.s.: só para reforçar que a Índia é aqui mesmo, lembrei que o economista Edmar Bacha apelidou o Brasil de Belíndia em uma fábula lançada na década de 1970 (leis e impostos da Bélgica + desigualdade indiana).