Gatinhas do norte

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Depois do tratamento de choque em Bangkok para acordar da bucólica Mianmar, 15 horas de trem levaram ao norte da Tailândia, ainda inexplorado por aqui.

Relatos de outros viajantes indicavam que o país pode ser dividido em dois: o sul das ilhas ensolaradas e vocação hedonista; o norte verde-montanhoso de alguma herança cultural e ecológica. Entusiastas garantiam preços mais camaradas e gente mais amigável (no sul, sorrisos só de quem não vive do turismo).

Em um passado não muito distante, o norte da Tailândia era um estado tributário independente, autonomia ainda sentida na língua e costumes próprios. Alardeiam a presença de minorias étnicas embrenhadas na mata montanhosa, algumas com origem nas vizinhas China e Mianmar. Mas não espere uma terra misteriosa e esquecida: como no resto do país, aqui também está cheio de turistas. A boa notícia é que dá para cortar boa parte deles cada quilômetro vilinhas adentro.

Chiang Mai é o pólo regional, o passado medieval lembrado apenas pelo muro em ruínas que cerca a cidade velha (que já é nova). A renomada universidade local atrai jovenzinhos em scooters que povoam bares esparramados pelas calçadas, cafés wifi e mercadinhos hipsters. O vizinho Parque Nacional Doi Suthep-Pui, abundante em verde, templos, cachoeiras e vistas panorâmicas, é um escape a temperaturas mais amenas (a cênica estrada até o topo um hit entre motociclistas). Sem moto? Espere uma bem-vinda carona a cada curva.

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Suposta Campos do Jordão dessas bandas, a fama de Pai decolou mesmo depois de um filme romântico rodado ali. A sensação é de que a cidadica de 3 mil habitantes tem menos moradores que turistas, estes interessados em nada mais complicado que flanar pelas ruas sossegadas ou tomar banho de piscina/cachoeira. Só não ouse incomodar as minorias étnicas em trekkings pela região – e sair com a impressão de invadir a casa alheia sem ser chamado.

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Chiang Rai seria apenas a priminha quero-ser-Chiang Mai e plano B para quem não cansou de natureza, não fosse um detalhe muito peculiar. Alguém ali resolveu investir nos artistas locais, e os resultados são o Templo Branco e a Casa Negra, uma rajada de frescor artístico contra o mais do mesmo. Valeram cada hora de bicicletada no sol quente.

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A partir de hoje, Mundolândia vai para o Laos, ansiosa por heranças de guerra e baguetes.


Seis razões para amar Bangkok

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Parece desenho animado, exagerada em tudo. Mas Bangkok esconde outros encantos não tão óbvios. Depois da terceira passagem por lá, eis alguns da minha seleção pessoal:

1) Diferente tipo igual
A capital tem presença maciça de ladyboys (travestis) e de casais formados por idosos ocidentais e jovens tailandesas. O
mais legal é conviver diariamente com essas opções no metrô e no caixa do supermercado, um exercício de neutralidade recomendado a todos (inclusive os que se consideram neutros).

2) Bangoquinha paz e amor
O que é o que é: parece São Paulo, é grande, doida e legal como São Paulo, mas não precisa andar na rua com medo de ser assaltado e de morrer? Sim, ela mesma.

3) Curtas
Aqui as moças locais e farangs (estrangeiras) podem andar praticamente peladas que ninguém nem tchum (e olha que fiquei de gaiata observando as reações masculinas com as sainhas-micro passando lá e cá). Nenhuma olhada intimidadora, nenhum fiu fiu para contar história. Vulgo paraíso na Terra.

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4) Taxis-banana
Precisa se locomover e está longe do trem aéreo/metrô? Pegue um taxi rosa-choque novinho com ar condicionado bombando e não caia para trás quando, depois de 30 minutos, a conta der R$ 6 (exija taxímetro).

5) Password?
Até as biboquinhas cobertas de lona rasgada têm conexão gratuita em alta velocidade (e pode usar horas com uma água na conta). Mas se nem a água quiser pagar, as maiores companhias telefônicas oferecem wifi de graça nas principais áreas da cidade.

6) Café de rua (essa mais para Tailândia que para Bangkok)
Aqui o café e suas variações leitosas, além das opções ice ou frapê, são considerados streetfood. Sabe a estrutura da barraquinha de cachorro quente? Vai ver tem café lá. <3

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O último paraíso

Foi sem muitas expectativas que desembarquei em Koh Lipe. Nova queridinha da Tailândia, a ilha integra o parque nacional Tarutao, quase na fronteira sul com a Malásia. Os livros falavam de um paraíso crescendo rápido, estilo “melhor correr agora antes que kohphiphize”. Depois de duas horas buscando pouso barato nas praias anoitecidas, senti a previsão tomar forma nos preços já inflados. Os 14 quilos de mochila me fizeram acordar só na manhã seguinte.

A partir de então, a inesquecível Koh Lipe mostrou a que veio. A ilha é rodeada por um mar turquesa padrão Maldivas e por outras ilhas semi-intocadas em verde rochoso. Durante as primeiras horas do dia, a maré alta convida para um banho na piscinona cristalina sem ondas, recomendado no intervalo entre horas de preguiça na areia branca. Quanto às praias, livre escolha entre as grandes mais conhecidas e as pequeninas quase vazias. A água é tão calma que dá para pular de uma para outra contornando as pedras.

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Mas a melhor parte vem quando o mar fica imprestável para banho (!). No fim de tarde, quando a maré retrai, os corais ficam tão próximos da superfície que a sensação é de estar em um grande aquário ao ar livre. É possível caminhar entre uma formação e outra, e nem precisa de snorkel para detectar peixes e cores passando bem pertinho das pernas e dos pés. A água fica absurdamente cristalina e a boca absurdamente aberta com tamanho capricho da natureza (a foto da família Nemo aí embaixo foi tirada de fora da água).

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No pôr do sol, experimente pular a óbvia Sunset Beach e vá para o meio do mar, no banco de areia formado entre Koh Lipe e a vizinha Koh Adang. Foi dali que, semi-deitada na água morna, vi a bola laranja cair na covinha formada entre uma ilha e outra. O céu enorme passou do azul para o quase vermelho, incluindo nuances de amarelo, laranja, rosa e púrpura que também tingiam a água. Na praia, famílias tailandesas batiam palmas e soltavam “ohs”, enquanto ocidentais em contemplação não ousavam se mexer.

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Embora passe por mudança rápida e aparentemente irreversível (área verde bastante devastada, um certo lixo irritante nas praias), Koh Lipe ainda se mantém com folga no status paraíso cinco estrelas. Os barcos e as massas de gente, por ora, não são suficientes para tirar o sossego e o brilho nos olhos de quem vem.

Resumindo, corra.

p.s. bônus: pequena na medida certa para ser explorada a pé, é fácil encontrar outros viajantes independentes que se juntam para celebrar os dias e noites mais interessantes e menos óbvios até aqui.

p.s.2: a partir de hoje encerro meu ciclo na Tailândia sul (vulgo ilhas e praias) e dou um tempo no país para passar algumas semanas na inexplorada Mianmar. Depois volto para finalizar o norte da Tailândia, seguindo para Laos, Camboja e Vietnã, nessa ordem.

p.s.3: perdido no mapa? Siga o passo a passo da viagem aqui!


A ilha dos indecisos

Uma coisa que a Tailândia vem ensinando: muita oferta de lazer também pode estressar um viajante mochileiro. Com mais de 700 ilhas e sabe-se lá quantas praias, escolher a próxima parada virou uma angústia cotidiana. As coisas vão mudando rápido, os guias ficam desatualizados e os preços de locomoção/hospedagem chegam a ser proibitivos em alguns destinos (padrões mochileiros, claro).

Escolha certeira para os amantes do mergulho, a costa fica complicada para quem não tem condições físicas/psicológicas de passar dias embarcado pulando de ilha em ilha. Aí tem as daytrips tumultuadas e caras, ou a opção de escolher um lugar sem saber direito como serão as condições de hospedagem. Praia/ilha muito cheias não é bom, muito vazias também não. Por fim, a tentativa de acertar o estilão de público que agrade.

Estava em um desses dias confusos quando esbarrei nesta matéria. A descrição de Koh Lanta fez sentido: “Melhor para: quando você não consegue se decidir”.
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Com mais de 30 quilômetros de alto a baixo, dizem que começou a ser frequentada por hippies na década de 1980 e que a energia elétrica chegou só em 1996. Mas como disse lá em cima, esqueça esse cenário inexplorado porque tudo mudou (muito embora grande parte da ilha ainda fique desativada na baixa estação, entre maio e outubro).

Hoje Koh Lanta é uma mistura de praias que variam do turistão ao quase deserto (sentido norte-sul), passando por resorts arrumados, bangalôs quero-ser-chique e quartos-palafitas.
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O público é um liquidificador: casais em lua-de-mel, famílias com adolescentes, famílias com pequenos, idosos tradicionais, ex-hippies, mochileiros jovens. É meio estranho ver crianças brincando com cachorros perto de placas que anunciam happy joint/banglassi/happy brownie, mas faz sentido no contexto.

Se o público parece diversificado, mais interessante ainda é a composição local. Destoando de todas as ilhas visitadas até então, a maioria é muçulmana (80%, segundo um site de lá). Só que também tem os budistas, a antiga vila com forte acento chinês e a outra de ciganos do mar.
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Koh Lanta tem um monte de lojas, restaurantes e terrenos para venda ou em construção, mas também uma reserva ecológica enorme, elefantes e praias com acesso semi-escondido. Não é exatamente paradisíaca, mas tem um não-sei-quê de charme. Depois de Bangkok, foi o único lugar onde me senti menos turista.

p.s.: ideal para motociclistas.


A dois (irredutíveis) passos

 

Barcos curtem um mar turquesa enquanto o pessoal observa do lado de fora

Barcos curtem um mar turquesa enquanto o pessoal observa do lado de fora

No filme A Praia, um dos personagens afirma que, se existe um lugar intocado na Terra, basta aparecer no Lonely Planet para tudo se perder. Ironicamente, não foi o infame guia, e sim a própria produção hollywoodiana que selou o destino do paraíso em pane conhecido por Koh Phi Phi.

Não fosse a película, nem festeiros do mundo todo e seus buckets, nem barulhentas famílias tailandesas em daytrips, nem idosos ocidentais endinheirados, dariam tanta atenção ao tesouro escondido no lado tailandês do Mar de Andaman. Mas bastou Leonardo Di Caprio aparecer e pronto, fez se a sanha mercenário-hedonista em torno do nome que personificou a praia perfeita narrada no livro de Alex Garland. E lá se vão 14 anos de carga pesada, tsunami devastador (2004) incluso.

A duas horas de ferry e 45 minutos de lancha do continente, as formações rochosas calcárias plantadas no oceano vão surgindo em nítido estourado como uma montagem em chroma-key. Zumbindo aqui e ali, barcos flutuam coloridos como peixinhos de pescaria junina e devem ser considerados parte indissociável do cenário.

O fluxo de gente chegando e saindo das ilhas é super, os preços idem. Nos pontos para mergulho, o que de longe parecia azul turquesa de perto é meio turvo e tem uma fina camada marrom-óleo. Turistas ansiosos para ver o “nemo” atiram comida ao mar sem parar, falam sem parar, gritam sem parar. Nem o pássaro que flutua lá de cima escapa: seu ninho-iguaria é negociado a peso de ouro na indústria alimentícia chinesa.

Se vale a pena? Ao entrar na Baía de Pi-Leh, não teve ronco de motor, não teve grito de gente, que fez conter as lágrimas de encantamento.

p.s.: Ele também acha que tem algo errado ali, e isso ainda em 2009.

Barcos peixes-juninos na deslumbrante Baía Pih-Leh

Barcos peixes-juninos na deslumbrante Baía Pih-Leh


Uaus

O “problema” de passar muitos meses viajando é que são tantas coisas incríveis pelo caminho que depois de um tempo fica difícil se impressionar com novas paragens. Mas a costa sudoeste da Tailândia conseguiu aquele efeito olhos-boquiabertos-com-tanta-coisa-linda.

Tipo isso

Tipo isso

Não que as ilhas do sudeste façam feio, muitíssimo pelo contrário. A festeira Koh Phagnan fica irreconhecível no marasmo das praias do norte, e embora cada dia mais ocidentalizada, Koh Tao mantém um clima largadão delicioso na costa sul e bons pontos para mergulho (apenas fuja do período pós-Full Moon Party que tudo dá certo). Só que, tirando uma coisa e outra – como a cênica ilha Koh Nangyuan – nada tão arrebatador. Brasileiros, temos o direito de exigir no quesito praia.

Linda e lotada Koh Nangyuan, 20 minutos de barco de Koh Tao

Linda e lotada Koh Nangyuan, 20 minutos de barco de Koh Tao

Já neste lado de cá, a natureza foi um pouco além. Estou nas vizinhas Ton Sai/Railay Beach, complexo de praias sem ondas que convivem em perfeita harmonia com manguezais, formações rochosas enormes e cavernas que chegam até a beirinha d’água. O lugar é perfeito para quem não associa necessariamente praia à preguiça, com vários pontos de trilha e escalada. Os intrépidos são premiados com vistas e lugares de incessantes “uaus” e “nossa, isso é o paraíso”.

Vista de Railay East e West depois de uma suada escalada usando cordas

Vista de Railay East e West depois de uma suada escalada usando cordas

Para completar, a região tem um fenômeno de maré de embasbacar. No final da tarde, o mar retrai dezenas de metros deixando a paisagem com um aspecto rochoso surrealista, reforçado pelos tons violeta do sol que já se pôs. Por volta das 9h30 da manhã seguinte, é impressionante observar a praia se formando de novo em poucos minutos.

Antes

Antes

Depois

Depois

A rústica Ton Sai atrai escaladores, grupos de amigos e casais desencanados e famílias mochileiras. Saem buckets e música eletrônica, entram coffee shops e Bob Marley covers. Já Railay e seus resorts boutique chamam turistas mais tradicionais em busca de sossego. Ou seja, tem para todos.

p.s.: perto daqui fica a estrela Koh Phi Phi, cenário do filme A Praia. Como não raro em Hollywood, a ultrafama veio acompanhada da má fama, e relatos indicam que o paraíso está tão sobrecarregado de turistas que o cenário anda meio desolador. A conferir.


Don’t stop the party

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Passei os últimos dias em Koh Phangan, irmã do meio entre as três famosas ilhas do sudeste tailandês (Koh Samui e Koh Tao as outras duas). Trata-se da casa da mundialmente aclamada Full Moon Party, e mesmo beirando os 30, sentia que precisava conferir o que se passa ali na primeira lua cheia de cada mês. Dessas coisas de fazer uma vez na vida antes de morrer.

A sensação é de estar em algum lugar que não pertence exatamente a uma cidade ou a um país, e sim em um mundo à parte onde só jovens são admitidos. Um exército de ocidentais, média 20-25 anos, é despejado continuamente no píer da ilha aparentemente fabricada para recebê-los. Todos os tailandeses parecem estar ali somente para cumprir a função de entretê-los, transportá-los, dar teto, alimentá-los. A pool party mais conhecida da redondeza avisa que nativos não são permitidos “por questões de segurança”. Mas não tem problema se crianças locais são encarregadas de explodir os fogos de artifício na praia. Em uma das festas, a forra travestida de entretenimento consiste em permitir que gringos embriagados se esbofeteiem no ringue de thai boxing.

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Os dias que precedem e sucedem a Full Moon Party são pretexto para um sem-número de festas, e é tanta coisa emendada que fica difícil saber se trata-se do warm up ou do after. E se a natureza não colabora com luas cheias durante o mês todo, tem também a Half Moon Party e a Black Moon Party. A alusão ao universo baladeiro é tão presente que depois de alguns dias parece que a vida é isso mesmo, a preparação entre uma festa e outra.

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A música eletrônica bate sem parar no mercado, na loja de roupa, nos bares e na festa perto do hotel que já dura, sei lá, mais de um dia? A maior atração local, gritada sem parar por locais que se esforçam para parecer os mais simpáticos entre as dezenas de barracas enfileiradas, é o bucket. Sim, o balde, cheio até a borda com alguma mistura envolvendo álcool barato e bebidinha doce para disfarçar (refrigerante, suco, energético). Do outro lado do balcão, ainda prometem abraços gratuitos, shots gratuitos, balões com gás hilariante. Tudo para manter a trôpega clientela fiel.

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O dia da Full Moon Party tem seu ritual específico. Milhares surgem uniformizados com camisetas neon estampando o nome da festa, ainda que não seja obrigatório como nosso abadá. Corpos semidesnudos decorados com tinta neon desfilam pelos bares da Sunset Beach e dançam frenéticos em cima de plataformas de madeira explodindo de decibéis e luzes. Os festeiros se dividem entre os eufóricos e os entorpecidos demais para chegar a esse estado. A pegação é generalizada. Atraídos por buckets gratuitos oferecidos por certos bares, alguns se arriscam em concursos para pular cordas em chamas ou passar dançando debaixo delas. O mar é um festival de vômitos, mijadas e bêbados querendo nadar.

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A manhã chega e revela um cenário tortuoso de rostos arregalados em meio ao lixo acumulado na areia. Enquanto tomo café, percebo que o garçom da pousada é o mesmo cara que virou a noite trabalhando na barraca de bucket na praia. Quando parece que a ilha vai entrar em um estado de  ressaca coletiva, o tutstuts recomeça em algum outro lugar.


Choque Thai

Estação Surasak

Confesso que está meio complicado me entender com a Tailândia depois de cinco meses no subcontinente indiano. A pobreza limitante dos preços rasteiros e de infraestrutura sofrível, somados à certa austeridade social, deram espaço ao país-centrífuga do tudo liberado, inclusive o visto. Saem os seletos viajantes que se atrevem, entram os milhares de turistas interessados em diversão fácil – inclua-se aqui o eufemismo para qualquer tipo de transgressão comportamental.

A mudança se fez sentir ainda mais depois da experiência nas montanhas nepalesas. Migrar da quietude autoreflexiva do Annapurna para Bangkok, a supermetrópole de todos os apelos sensoriais, foi um solavanco daqueles. Vou tateando com calma enquanto corpo e mente se acostumam. Sei que vão.

A sensação é de estar em uma cruza estranha entre São Paulo e Las Vegas. O calor acachapante faz meu corpo entrar em modo semi-desmaio, e os monstros-deuses que guardam os templos ganham tom de delírio em cores quentes. Os olhos se perdem nos superbanners e neons que vão passando pela janela do trem aéreo. Nos prédios supermodernos que dão horizonte ao respeitável fluxo de carros pontuados por táxis rosa-choque cintilantes.

Na rua mochileira, jovens turistas clamam pelos melhores momentos de suas vidas, sem lembrar que às vezes o tão alto implica em não voltar mais. Também não se lembram que, a poucos metros e dias dali, a Tailândia de verdade estava em violento colapso político, confirmado pela presença maciça de acampamentos militares por toda a cidade.

A noite chega com um estranho vento que não estava lá. Nas ruas acesas de vermelho, homens brancos velhos pagam bebidas a esculturais senhoritas de origem afro-asiática, a maneira barbie-afetada não condizente com o profundo sentido por trás dos olhos vidrados. Não muito longe dali, feirantes acumulados em esteiras na calçada esperam pelos bahts da manhã seguinte.

p.s.: a quantidade de estrangeiros que se perdem para sempre nos sem-limites da Tailândia é algo assustador. Mal cheguei e já vi que a vida real é pior que a ficção.

p.s.: ufa, finalmente turistas brasileiros. Aos montes.


Quiz do domingão

Hoje teve mais um daqueles eternos debates sobre a situação socioeconômica dos países do mochilão. Depois de reiterar que o Brasil não está tão distante dessas realidades, veio o desafio: “Então veja lá o IDH”.

A fórmula de cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano, usado pela Organização das Nações Unidas desde a década de 1990,  não é unânime entre estudiosos. Mas não deixa de ser uma régua para os 186 países analisados – e adoramos uma lista, vai.

Divido o quiz com vocês para embalar esse domingão preguiçoso de sol escaldante. Façam suas apostas (respostas depois do mapa).

Destinos, pela ordem: Índia, Sri Lanka, Maldivas, Nepal, Butão, Tailândia, Mianmar, Laos, Camboja, Vietnã, Malásia, Cingapura, Indonésia, Filipinas, China, Mongólia.

(Reprodução IDH 2012 UOL)

(Reprodução IDH 2012 UOL)

Posição dos países no ranking: 13º Hong Kong (China); 18º Cingapura; 64º Malásia; 85º Brasil; 92º Sri Lanka; 101º China; 103º Tailândia; 104º Maldivas; 108º Mongólia; 114º Filipinas; 121º Indonésia; 127º Vietnã; 136º Índia; 138º Laos e Camboja; 140º Butão; 149º Mianmar; 157º Nepal.


Sudeste Asiático express

Hoje não vou falar de ir para o outro lado do mundo, e sim de aproveitar quando o outro lado do mundo vem até nós. Porque nem sempre é preciso colocar uma mochila nas costas e torrar um dinheirão para conhecer um pouco mais de culturas tão incríveis.

Muitos críticos consideram a cozinha vietnamita a melhor do mundo. (Goodmami / Creative Commons)

Muitos críticos consideram a cozinha vietnamita a melhor do mundo. (Goodmami / Creative Commons)

No próximo dia 14 de setembro (sábado), sete dos 10 países que formam a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês) vão fazer um festival gastronômico e cultural em Brasília em comemoração ao 46º aniversário da entidade. As portas da Embaixada das Filipinas estarão abertas entre 11h e 15h30 para apresentações culturais, jogos e comidas típicas, com entrada gratuita.

Todos os sete países que participam do evento estão na minha rota de viagem: Cingapura, Indonésia, Malásia, Mianmar, Filipinas, Tailândia e Vietnã.  Mesmo antes de chegar lá, posso dizer que as pessoas com quem já tive contato são das mais hospitaleiras e simpáticas (e a comida do Sudeste Asiático, bom, é um capítulo a parte de boas surpresas).

A Asean foi criada em 1967 com o objetivo de acelerar o crescimento econômico dos países membros e para promover paz, estabilidade e colaboração em diversas áreas. Atualmente, além dos sete países já citados, também é formada por Brunei, Laos e Camboja, que não vão participar da festança porque não têm representação diplomática em Brasília.

A Embaixada das Filipinas fica no Setor de Embaixadas Norte, Lote 1 (perto do Iate Clube).