Driblando o autocentrismo*

Tinha acabado de chegar da Bolívia/Peru. A vontade de passar um tempo fora voltou forte, mas com uma forma diferente. Nenhum dos destinos primeiromundistas amados por nós brasileiros fazia sentido. Não queria conforto, não queria desenvolvimento. Uma realidade desconhecida chamava, mas não sabia onde procurar.

Na passagem pelos vizinhos, fiquei surpresa por encontrar pouquíssimos brasileiros, em contraste com muitos estrangeiros de todas as partes. Os latinos adoravam me provocar dizendo que éramos um país autocentrista*, geográfica e culturalmente de costas para eles. Pensando bem, de costas para o mundo que não inclua Europa e Estados Unidos.

Um dia, voando entre um trabalho e outro, peguei a revista de bordo e a resposta estava lá, nas páginas que desdobravam a reportagem de capa. Sabe aquela hora que acende um holofote de certeza na sua direção? Isso.

p.s.: meu planejador online de viagem acaba de mandar um email com os seguintes dizeres.

tripit

aimeudeus, uma semana.

*não gosto de mudar termos usados por outras pessoas para deixar o texto politicamente correto: o que foi dito, foi dito, com sua carga e tudo. Também não gosto de mexer em aspas para “melhorar” a frase pelo mesmo motivo. Por outro lado, não quero ofender quem quer que seja, então o termo asteriscado foi adaptado do original. 


Tá e não tá

Quando alguém me pergunta se está tudo certo para a viagem, fico sem saber o que responder. “Tá e não tá”, arrisco, deixando o interlocutor satisfeito com tamanho esclarecimento.

Em geral, sou daquelas xiitas com planejamento. Para desespero de quem gosta de relaxar andando a esmo nas férias, só consigo chegar em algum lugar com tudo meio esquematizado (se possível, até os mapas já vão meio meio decorados). A-M-O guias. Isso acontece porque não costumo repetir destinos e tento maximizar o aproveitamento do esquálido período de férias.

Freak dos guias

Dessa vez, tive que adaptar esse espírito metódico para sobreviver ao ano sem surtar. Fiz um planejamento macro de todo o mochilão, com a média de tempo que pretendo passar em cada país e o rumo que vou seguir.

O planejamento médio, com a ordem das cidades, transporte e possíveis hospedagens, só tenho para os primeiros meses. Os meses seguintes vão sendo programados de lá, aos poucos, sucessivamente. Uma regra que criei nessa etapa foi destacar logo de início os festivais e eventos imperdíveis com data marcada, reservando hotéis e passagens com antecedência. Nos demais destinos, costumo separar entre duas e três opções de hospedagem próximas para dar uma olhada na hora. Albergue é assim, tem que bater o santo.

O planejamento micro, com as atrações de cada lugar, vai ser relembrado nos dias anteriores à visita, com o guia na mão, entre um trem e outro.