Um dia com os monges

Só soubemos que haveria uma cerimônia especial no monastério de Thikse um dia antes, avisados por dois viajantes que já haviam passado por lá. Decidimos mudar o cronograma e reservamos um dia inteiro para imersão no universo budista.

Casa de milhares de refugiados desde a invasão chinesa no Tibete, o Ladakh indiano é repleto de monastérios, encravados no alto de rochas com vistas deslumbrantes. Em Thikse não é diferente – muitos consideram o local uma réplica do monastério tibetano de Potala. Atualmente o lugar tem 80 monges e 20 pequenos futuros monges (o mais jovem com três anos e meio).

A cerimônia especial em questão é a destruição da mandala. Durante uma semana, os monges trabalham construindo lindas formas com areia colorida. Depois apagam o trabalho, simbolizando a efemeridade das coisas materiais. O evento ocorre apenas três vezes por ano, com três mandalas diferentes – cada uma delas representa uma entidade específica do budismo.

Devido ao início da baixa temporada e ao isolamento dos monges, que não fazem questão alguma de divulgar o acontecimento, menos de 10 turistas presenciaram o ritual. A destruição da mandala é precedida por várias cerimônias. Na primeira, realizada no pátio do monastério, um monge conduzia as rezas enquanto queimava ofertas. Bumbos, cornetas, pratos e trombones típicos finalizavam cada ciclo de orações em epifania.

A segunda cerimônia aconteceu dentro do templo. Sentados em tapetes no fundo da sala, nos sentimos integrados ao receber o mesmo chá de manteiga e biscoitos servidos aos monges. Mais uma vez, rezas e instrumentos que retumbavam na mente e no coração, elevando qualquer resquício de pensamento mundano.

A destruição da mandala veio em seguida. A dor no coração de ver um trabalho tão lindo virando pó, literalmente, logo passa quando internalizamos o sentido de tudo aquilo.  Seguimos ofegantes os ligeiríssimos monges escadaria abaixo até o rio. Na última cerimônia, lançamos na água o mix mágico de areia multicolor.

Um dia para ficar na memória. Para sempre.

Aqui o começo da destruição da mandala.