A semana em um ashram, sem rodeios
Publicado; 26/10/2013 Arquivado em: Índia | Tags: Ashram, Parmarth Niketan 14 ComentáriosDesde que cheguei a Rishikesh, não fiz um amigo e vivo de olheiras fundas, mas há tempos não me sentia tão calma e satisfeita. Detalhe que me hospedei em um ashram considerado liberal, com regra de silêncio mais opcional que compulsória, sem a obrigação da seva (o trabalho voluntário), e com programação bastante flexível. Ou seja, se você quiser falar sem parar e faltar às atividades o problema é mais seu que deles. Mas aí, estar aqui deixa de fazer sentido.
Às 4h30, os badalos da Mangala Aarti tentam acordar os peregrinos (muitos deles indianos) para as primeiras preces do dia. Levantar da cama e encarar o vento frio que sopra entre os morros, ainda encobertos pela noite, é um trabalho diário de superação. Entre 5h e 5h30, o desafio é manter-se desperto com as orações musicadas em sânscrito. A variação mínima dos acordes do harmônio acaba criando um transe mental, e é preciso se policiar constantemente para não passar da concentração para o primeiro estágio do sono.
A terceira prova da madrugada também é daquelas: meia hora de palestra em hindi sobre questões espirituais. Embora seja muito interessante estar ali, só dá para entender os três primeiros oms e pescar algumas palavras como Krishna, samsara, darshan e yoga. Para os não iniciados, outra dificuldade é manter-se sentado no chão em posição de lótus por quase uma hora, com as pernas já dormentes.
A partir das 6h30, são duas horas de yoga e meditação. Embora o nível de dificuldade seja fácil, virar e desvirar o corpo com o cérebro ainda meio zonzo de sono, sem ter comido desde a noite anterior, é uma tarefa mais complexa que parece. O horário entre o café da manhã e a próxima aula (16h) é livre.
Às 17h30, todos os internos são esperados para o Ganga Aarti, a cerimônia de devoção ao rio. Os cantos e orações só terminam com a noite já instalada, quando o Swamiji nos recebe para uma série de perguntas e respostas sobre inquietações da alma. Depois do jantar, é hora de tentar dormir, pelo menos até a próxima madrugada.
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p.s.: a alimentação do ashram merece um parágrafo a parte. As três refeições diárias são totalmente vegetarianas (sem derivados do leite nem ovos) e naturais – ou seja, nada processado, frito ou com aditivos. A comida até agrada quem não é fresco, mas acaba ficando repetitiva. E é justamente nessa falta de graça que está uma lição interessante: a possibilidade de aniquilar a gula sem muito sofrimento. Você vai comer, feliz, porque seu corpo precisa daquilo, e não pela vontade desenfreada de sentir um gosto específico. O mais difícil é levar essa ideia libertadora para a vida real, com suas rotinas estressantes e fast foods.