TAJ TAJ TAJ

Nesses 20 e tantos anos, posso dizer que já tive a sorte (às vezes o azar) de me apaixonar algumas vezes. Mas hoje as coisas chegaram a um novo estágio entre os envolvimentos emocionais possíveis e impossíveis. Pela primeira vez senti palpitações românticas por um lugar, e o responsável foi o irresistível Taj Mahal.

Mesmo com toda pompa que ronda seu status de maravilha arquitetônica mundial, nunca tive muito interesse por ele (tenho certo preconceito com mausoléus). Mas quando o vi de longe, reluzindo sua brancura suave entre as formas escuras do primeiro portal do complexo, fui tomada por reações piegas que só cabem nos amores à primeira vista.

Já me comovi em certos lugares pelo significado e pela história que eles trazem, mas essa é a primeira vez que sinto um arroubo estético por uma fachada. Pelas cinco horas seguintes, não consegui tirar os olhos das formas curvas em mármore branco decorado com finos desenhos em pedras semipreciosas.

Me perguntei se os arquitetos tinham plena ciência de que estavam dando vida ao paradoxo impossível entre o grandioso e o delicado, ou se no final ficaram tão maravilhados quanto todos nós. Mais verossímil seria se tivesse uma placa do lado explicando que o layout veio descarregado diretamente do céu, cenário de fundo onde o Taj fica tão bem integrado.

Passei o dia perambulando por todos os lados, e a cada novo ângulo, um novo baque. “Mas como pode isso agora se ali atrás já estava perfeito?”. E mais uma foto. E mais centenas de fotos, justamente eu, tão econômica com imagens. Mas que fique claro, nenhuma capaz de repassar o que é estar com ele ao vivo, envolvido na leve bruma do rio Yamuna neste fim de tarde de outono. (suspiro).

E a despedida? Fiquei com dor no coração, DOR NO CORAÇÃO, por precisar ir embora (mais tarde soube que essa reação é comum em várias pessoas, menos mal). Adiei enquanto pude, pensando se poderia ter um jeito de quem sabe voltar amanhã, quem sabe ficar um pouco mais, quem sabe alguma solução para que aquilo fosse só um até breve.

Quando vierem, lembrem-se de mim, que eu volto também.


Índia para os fortes

Comemorando com os sikhs

Comemorando com os sikhs

Fui atropelada por Amritsar.

Cidade mais pulsante do Punjab, ela consegue ser uma Índia ainda mais frenética. Língua, música, estilo e cultura são próprios da região, com um quê meio árabe, quem sabe lembrando que o Paquistão está logo ali do lado. Desavisada, minha energia foi para o ralo sem chance de defesa.

A cidade é a casa do incrível Templo Dourado e capital espiritual da religião sikh. A crença surgiu no Século 15, pregando a fé em um Deus único e nos ensinamentos professados por seus gurus. Sabe aqueles homens de olhar incisivo, turbante, barba e bracelete prateado, às vezes com uma faca ou espada pendurados na cintura? São os sikhs. No museu local, a vocação marcial é explicada em centenas de pinturas sanguinolentas que retratam mártires e heróis encrencados por não abdicarem de suas crenças.

Um dos maiores pilares da fé sikh, a igualdade entre os seres humanos tem sua maior síntese nas enormes cozinhas dos templos. Elas servem gratuitamente todos aqueles dispostos a se sentarem no chão, dividindo fileiras com esfarrapados e donos de celulares de última geração. Daquelas coisas que não tem como explicar, só se unindo aos milhares que passam por ali todos os dias para entender.

Além da enorme carga religiosa que atrai fieis de todas as partes do mundo (ou até por causa disso), Amritsar é um caldeirão de gente que empurra, que esbarra, que buzina, que pedala, que vende e que cozinha no meio das ruas sem calçadas. É o caos no caos, e nem as noites são poupadas.

Para convulsionar ainda mais, cheguei no meio de um evento adorado pelos hindus, o Diwali. O Festival das Luzes também tem um sentido especial para os sikhs, que se amontoaram no Templo Dourado no último domingo para ver a queima de fogos. Os estouros começaram às 18h30 e terminaram madrugada adentro pelas ruas da cidade, como se Amritsar já não fosse o bastante.


Sozinha, parte 2

Tem a colombiana linda que largou tudo para viver em ashrams na Índia

Tem o nepalês que trabalha na pousada, mas sonha voltar a ser guia de safaris

Tem o dinamarquês que investiu semanas em um estágio sobre assuntos culturais

Tem o francês que veio renovar seu visto chinês para continuar um estágio por lá

Tem dois amigos, um indiano e um inglês, viajando de férias depois de se conhecerem na universidade

Tem a australiana de folga do Médico Sem Fronteiras, planejando ir ao Everest com dois irmãos húngaros

Tem o alemão e o holandês que participavam de reuniões para deslanchar a nova empresa

Tem a brasileira trabalhando em uma empresa indiana com o amigo indiano

Tem a moçadinha animada dos Estados Unidos em um programa da faculdade

Tem o médico alemão que parou de ver sentido em ter dinheiro, mas não ter uma vida

Tem o bartender francês que junta dinheiro na alta temporada para viajar o mundo o resto do ano

Tem o casal de meia idade inglês que fica meio ano na Inglaterra e meio ano no sul da Índia dando aulas de meditação

Tem o fotógrafo sul-africano que viaja o mundo em busca de animais selvagens

Tem o colombiano tatuado que ficou viciado na Índia

Tem o inglês vivendo meses em comunidades isoladas para fazer seu PhD

Tem o rapaz sul-africano que optou por conhecer o mundo antes de administrar o que quer que seja

Tem a enfermeira finlandesa que largou tudo para ser discípula do guru em tempo integral

Tem a americana que veio fazer ioga e se encontrar em projetos sociais

Tem o alemão quarentão querendo saber onde está o verdadeiro Deus

Tem a neozelandesa viajando pelo mundo há nove anos

Tem o senhor francês hiperativo exilado em Bali que veio para uma antiga comunidade hippie

Tem os suíços fazendo um documentário sobre o Tibete

Tem o chinês que apoia a independência do Tibete

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O mais interessante de viajar sozinha por um país como a Índia é que todos os encontros valem a pena. Estar aqui é virar a chave para uma vida de possibilidades.