Resumão Mundolândia
Publicado; 29/11/2013 Arquivado em: Índia | Tags: Bishnoi, Jodhpur, Khajuraho, Udaipur Deixe um comentárioO tempo passa e até as descobertas diárias, tão inéditas, viram rotina. Na combinação entre correria de um lugar para outro + acesso limitado à internet rápida + divisão do tempo livre entre o planejamento dos próximos passos/falar com a família e amigos antigos/entrosar com os novos amigos, algumas coisas legais acabaram ficando pelo caminho.
Me redimo agora com um resumão dos momentos imperdíveis das últimas semanas.
1) Ama à árvore como a ti mesmo
Você, defensor dos animais e da natureza, pode ter abdicado bravamente dos prazeres da carne, mas daria sua vida por uma árvore? Pois aqui na Índia isso já aconteceu não uma, mas 363 vezes. O povo Bishnoi vive em pequenas vilas perto de Jodhpur e é conhecido por interferir minimamente na natureza. Contrariando os costumes hindus, as famílias preferem não cremar os cadáveres para não usar lenha. Também não usam tecido de cor azul, pois isso significa que foi preciso maltratar uma planta para obter o índigo artesanalmente.
Aí que no Século 18, o manda-chuva local achou que devia cortar umas árvores na área dos bishnois para construir seu palácio. Uma mulher da comunidade se colocou entre os soldados e a floresta, dizendo que primeiro teriam de cortar a cabeça dela – o que não hesitaram em fazer. As filhas tiveram a mesma reação, assim como mais de 300 habitantes do vilarejo. Quando a matança chegou aos ouvidos do rei, virou uma comoção só e ele declarou a área toda intocável e santa. Se o bloqueio está funcionando plenamente não sei, mas um astro famosíssimo do cinema indiano está enrolado na Justiça há anos porque inventou de caçar um animal sagrado na área dos bishnois.
2) Luxo e lixo lado a lado
O que sempre ouvia antes de chegar a Udaipur era: “Nem parece a Índia” – observação parcialmente correta. A cidade é um deleite para os olhos, com palácios e resorts de 1.200 reais a diária rodeando lagos cobertos por uma bruma cênica, algo entre Veneza e a Lagoa Rodrigo de Freitas. O luxo é tão convincente que Udaipur foi uma das locações do décimo terceiro filme da saga James Bond, Octopussy (1983), estrelado por Roger Moore.
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Mas ó, nem precisa sair da área “nobre” dos lagos para ver a Udaipur da vida real. Só precisa treinar os olhos para mirar o que não reluz.
3) Tabu reverso
Segundo sabemos deste mundo, o tempo é o maior diluidor de tabus, transformando o chocante em corriqueiro. Mas na Índia esse conceito é relativo, ao menos quando olhamos para os templos de Khajuraho. Construído nos séculos 10 e 11 pela comunidade Chandela, o complexo tem construções incríveis com esculturas em relevo mostrando detalhes dos costumes da época: adoração aos deuses hindus, vida na corte, guerras, brigas de elefantes, apresentação de músicos e dançarinos e… sexo, em cenas orgíricas de fazer corar os desprevenidos (cavalo incluso).
Isso no país onde mal se vê casais de mãos dadas nas ruas hoje em dia.
p.s.1) Os álbuns completos de Jodhpur, Udaipur e Khajuraho estão no Flickr, na coluna aqui à direita.
p.s.2) Já estou na parte leste da Índia, rumando para o sul dentro de poucos dias. Esqueceu o link para acompanhar as andanças no mapa? Olha ele aqui!