Meu surpreendente natal indiano
Publicado; 25/12/2013 Arquivado em: Índia 6 ComentáriosAo contrário do que pensam os leitores, meu natal na Índia foi cheio de Jesuses, presépios e papais noeis. O rebuliço em torno do aniversariante foi tanto que até ceia teve – tudo bem que acabou às 22h30, mas né, o importante é confraternizar.
“E os deuses azuis cheios de braços? E os deuses macacos? Como assim Jesus?”, pergunta você, já sem entender nada.
Embora o hinduísmo prevaleça entre mais de 80% da população, a Índia abraça calorosamente inúmeras religiões – a convivência é tão harmônica que não é raro encontrar Jesus dividindo altar com Shiva (azul) e Hanuman (macaco), especialmente no sul do país. Em Cochin, antiga colônia portuguesa onde estive nos últimos dias, uma significativa comunidade católica preserva costumes como a representação do auto de natal com as crianças da catequese e a missa do galo, uma fofura só.
Não sabia muito bem dos detalhes até chegar lá e me refestelar na hospitalidade natalina local. Mais uma vez aquela sensação boa de estar em casa, mas dessa vez em casa mesmo: me hospedei na residência de uma querida família católica de pai, mãe e duas pequenas mocinhas. Estar no sofá da sala com eles ao som de um DVD de disco music natalina, enquanto saboreava os deliciosos bolo e vinho natalinos preparados pela matriarca, foi muito mais que esperava esse já amarfanhado coração mochileiro.
Nas ruas, cada venda, cada corrida de tuk tuk, cada conversa ininteligível entre os locais, era encerrada com votos de happy christmas. Intrigada com a quantidade de cristãos, pergunto se o rapaz que acabou de fazer votos é católico. Diz que é muçulmano, mas saca um colar de crucifixo de dentro da camiseta. Me surpreendi ao descobrir que a antiga sinagoga estava fechada em homenagem ao aniversariante dissidente. No mural perto dos pescadores, Shiva e Jesus posavam lindos para a pintura.
p.s.: Cochin em si é um cidadão com mais de 600 mil habitantes, mas um pedacinho dela, Fort Cochin, mantém o clima de vila pequena com cheirinho de maresia. Mesmo sem praia frequentável, o mar atrai atenções com os pescadores equilibristas que operam antigas engenhocas de freios e contrapesos – um interessante contraste com os cargueiros enormes que vão e vem de um dos portos mais movimentados da Índia.
p.s.2: aproveitando o ensejo, boas festas a todos!