Vamos embora para Calcutá?

Kumartuli, o bairro dos escultores

Kumartuli, o bairro dos escultores

Cheguei a Calcutá tensa.

Todas as informações que tinha até então eram encapadas em papel de qualidade duvidosa. Ruas lotadas e sufocantes, pobreza indigesta, dificuldade para mulheres sozinhas… Enfim, uma cidade difícil. “Apesar de toda minha experiência, me senti como uma novata em Calcutá. Me senti vulnerável, fora do meu eixo”, disse a blogueira canadense que viajou a convite do escritório de turismo local. Mas aqui comigo, uma informação destoava: Calcutá é conhecida como celeiro artístico de alta qualidade na Índia. E essas flores raras não aparecem assim, em qualquer ambiente.

Fato é que, enquanto estive lá, me perguntei todos os dias se realmente tinha descido no lugar certo.

Pela primeira vez, andei normalmente pelas ruas sem sentir todos os olhares em mim. A cidade tem um ritmo diferente, rápido, mas não frenético, alegre, mas não carnavalescamente turístico. As mulheres andam decididas e falam de igual para igual com os homens. Camelôs vendem livros em mantas estendidas no chão. Estudantes e trabalhadores, de óculos e pastinhas, pipocam por todos os lados. As crianças continuam te cumprimentando com risadinhas e os típicos gritinhos de “hello”, mas jamais vão parar a interessante brincadeira do momento para ficar na sua volta. Se eu tivesse que  resumir o clima de Calcutá em uma frase, diria que ali cada um cuida da sua vida.

E a cidade sufocante? Tirando alguns pontos de maior aglomeração, as ruas são até bem tranquilas (flashs de Calcutá no Flickr aqui do lado).  E a pobreza contundente? Está lá, mas nada diferente do estilão Índia. Aliás, no lugar de gente pedindo dinheiro em toda parte, o que vi foi cada um tentando se virar da sua forma, com birosquinhas montadas nas calçadas vendendo de conserto de instrumentos a fritada chinesa.

Fascinada pelo clima local, abandonei o ímpeto turistona e tirei os dias para vagar pelos bairros – queria a foto mais ampla que Calcutá e seus 4,5 milhões de habitantes poderiam me dar em apenas três dias. O desafio era usar o metrô e o trem para descer em pontos randômicos, sem um plano definido. E a cada nova estação, o reforço de que a cidade me ganhou por inteiro.

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ps: historinha de Calcutá – depois de muito procurar, achei uma banquinha simplória na rua que vendia pinça. Além de não superfaturar o preço do produto, coisa meio rara por aqui quando se trata de turistas, o homem recusou veementemente ficar com o troco de menos de 8 centavos de real. Não adiantou insistir: recebi duas rúpias de volta junto com um sorriso.