9 de setembro

(Brian Gurrola / Creative Commons)

(Brian Gurrola / Creative Commons)

Hoje é um data especial por aqui. Nesse mesmo dia 9, só que de outubro, embarco rumo a Delhi com uma mochila pequena para carregar o caminhão de sentimentos e de pensamentos que vai comigo.

E numa mesma segunda-feira, só que da semana passada, a mundolândia era apresentada oficialmente ao mundo. Desde então, não paro de me surpreender com o carinho dos amigos que me acompanham por aqui.

Obrigada, gente!


A tortura da logística

Um ano de viagem. Tempo de sobra para ver muita coisa, né? Hm, nem tanto.

Como vocês já devem ter percebido no roteiro, são 16 países em 12 meses, uma conta apertada de menos de um país por mês.  A situação dá uma aliviada porque a passagem vai ser mais rápida em alguns lugares. Butão e Maldivas, cujos custos são super altos, vão receber menos de uma semana. Cingapura, que é menorzinha, também deve demandar bem menos de um mês.

3028620509_efe2edabc2_o

Por outro lado, países de dimensões continentais, como Índia e China, são um desafio logístico a parte. Só para a Índia foram reservados três meses. Parecia mais que suficiente até começar a marcar no mapa as cidades/pontos de interesse.

Cheguei a um assombroso número de 64, uma média de 1,4 dia por cidade (!!!). Junte isso à tentativa de encaixar deslocamento geográfico com os períodos de festivais e ao quebra-cabeça para minimizar os riscos de segurança, e você chega a uma pessoa que já não tem unhas para roer há um bom tempo.

A conclusão é que alguma coisa vai ficar para trás, mas aí vem a tortura de pesar o que é mais importante quando tudo parece merecer uma visita, “já que vai estar lá mesmo”. E eis mais uma reflexão para o capítulo de que viagem e relaxamento nem sempre caminham juntos.


O dia do deus-elefante

Imagem que recebi no email da Travel Parkz, agência de viagens de Mysore.

Imagem que recebi no email da Travel Parkz, agência de viagens de Mysore.

Minha caixa de entrada acaba de dizer uma verdade contundente: “Filha, você já está com um pé lá e outro cá”. Recebi um simpático email de uma agência de viagem indiana com a mensagem “Happy Ganesh Chaturthi!”. Por outro lado, nenhuma mensagem de empresa ou órgão brasileiro comemorando o Dia da Independência.

É curioso pensar que nossas tradicionais festividades passam batidas para bilhões de pessoas de outras culturas. Achei graça esses dias quando pesquisava futuras datas de palestras do Dalai Lama.  Elas foram encaixadas, aleatoriamente, entre 25 de dezembro e 3 de janeiro.

Por outro lado, nós ocidentais mal temos notícia do que mobiliza as pessoas do outro lado do mundo. O hinduísmo e seus milhões de deuses, avatares e festividades, por exemplo, parecem algo muito exótico e complexo para entender. Realmente é, mas aí que está a parte boa.

Representado com corpo humano e cabeça de elefante, Ganesha surgiu de um acidente provocado por um marido ciumento. Enquanto tomava banho, a deusa Parvati pediu para um menino vigiar a porta. Quando seu marido Shiva chegou e viu o rapaz, cortou a cabeça dele. Indignada, Parvati exigiu que algo fosse feito e Shiva mandou seus guardas trazerem a cabeça do primeiro ser vivo que encontrassem pelo caminho. O resto vocês já imaginam.

Segundo a jornalista Florência Costa (comprem Os Indianos!), o Ganesha Chaturthi é um dos festivais mais populares da Índia moderna, celebrado com especial dedicação em Mumbai, capital financeira da Índia. O deus-elefante simboliza a prosperidade, a sabedoria e a inteligência, além de ser considerado um removedor de obstáculos poderoso. Tudo a ver com os ideais emergentes despertados pelo crescimento econômico indiano das últimas décadas.

Em 2013, o festival será comemorado na segunda-feira (9). Feliz dia do deus-elefante, gente!


Sudeste Asiático express

Hoje não vou falar de ir para o outro lado do mundo, e sim de aproveitar quando o outro lado do mundo vem até nós. Porque nem sempre é preciso colocar uma mochila nas costas e torrar um dinheirão para conhecer um pouco mais de culturas tão incríveis.

Muitos críticos consideram a cozinha vietnamita a melhor do mundo. (Goodmami / Creative Commons)

Muitos críticos consideram a cozinha vietnamita a melhor do mundo. (Goodmami / Creative Commons)

No próximo dia 14 de setembro (sábado), sete dos 10 países que formam a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês) vão fazer um festival gastronômico e cultural em Brasília em comemoração ao 46º aniversário da entidade. As portas da Embaixada das Filipinas estarão abertas entre 11h e 15h30 para apresentações culturais, jogos e comidas típicas, com entrada gratuita.

Todos os sete países que participam do evento estão na minha rota de viagem: Cingapura, Indonésia, Malásia, Mianmar, Filipinas, Tailândia e Vietnã.  Mesmo antes de chegar lá, posso dizer que as pessoas com quem já tive contato são das mais hospitaleiras e simpáticas (e a comida do Sudeste Asiático, bom, é um capítulo a parte de boas surpresas).

A Asean foi criada em 1967 com o objetivo de acelerar o crescimento econômico dos países membros e para promover paz, estabilidade e colaboração em diversas áreas. Atualmente, além dos sete países já citados, também é formada por Brunei, Laos e Camboja, que não vão participar da festança porque não têm representação diplomática em Brasília.

A Embaixada das Filipinas fica no Setor de Embaixadas Norte, Lote 1 (perto do Iate Clube).


O bem da viagem

Escrevo esse post depois de bater um longo papo com uma pessoa muito querida. Falamos por videochat, coisa que pouco faço porque não tenho muita paciência de ficar conversando com um notebook. Deve ser alguém da família ou uma grande amiga, você pensa. Pois olha só, conheci essa pessoa hoje mesmo, quando ligamos a tela do computador. Fomos apresentadas por um amigo em comum e  falamos sobre a experiência dela na Índia.

A coisa maravilhosa de investir em uma viagem longa é que entramos em outra voltagem imediatamente após a decisão. Passamos a vida criando hábitos, e, um belo dia, a nova ordem é que cada movimento se torna especial e fora da rotina. Tudo vale a pena.

Ainda nem saí de Brasília e já conheci mais gente no último mês que nos últimos dois anos. Retomei contato com amigos queridos que eu não via ou falava há séculos. A relação com pessoas do meu convívio cotidiano passou do usual piloto automático para promessas já nostálgicas de encontros futuros. Me emocionei nesta semana ao vestir um suéter tricotado pela minha mãe. Ao ver a primeira foto da antiga equipe de trabalho sem mim. Ao pensar em quem fica.

Sem falar na energia positiva que se instala na sua volta. Perdi a conta de quantas palavras, e-mails e mensagens de carinho e de incentivo chegaram até aqui. As pessoas ficam genuinamente felizes de saber que ainda é possível realizar sonhos. E eu fico genuinamente feliz de despertar isso nelas, esperando uma nova onda de boas novas.


Vistos – Índia, Sri Lanka e Maldivas

Poupando horas de pesquisa dos leitores viajantes, parte 1.

Para chegar em Thanjavur, so com visto. (Ryan Ready / Creative Commons)

Para chegar em Thanjavur, em Tamil Nadu, só com visto. (Ryan Ready / Creative Commons)

Índia – Exige visto de brasileiros. O Consulado Geral em São Paulo atende São Paulo, Rio de Janeiro e os estados do Sul, enquanto a Embaixada da Índia em Brasília todos os demais estados. Ambos aceitam envio de documentação pelos Correios. Em Brasília é possível se apresentar pessoalmente e as taxas podem ser pagas em dinheiro (direto na Embaixada) ou em cheque administrativo. São Paulo só aceita depósito em conta e o atendimento personalizado é liberado apenas para emergências.

São diversos tipos, taxas e períodos de duração de visto, dependendo do perfil do visitante (turista, negócios, estudantes, trabalho, jornalista, voluntários, etc) e dos locais visitados (há várias áreas protegidas que exigem pedidos específicos). Em São Paulo, por exemplo, um visto básico para turista, com duração de seis meses e múltiplas entradas, sai por R$ 185 com todas as taxas inclusas, e geralmente é expedido em um dia (sem contar o período de trânsito pelos Correios). Detalhe importante: a validade do visto indiano começa a correr a partir da data de expedição, e não de entrada no país.

Sri Lanka –  Tem um sistema online de vistos para entradas de até 30 dias. A taxa geral é de 30 dólares, e pode ser paga com cartões de crédito das principais bandeiras. O prazo do visto começa a contar a partir da data de chegada ao país.

Até os paraísos tem uma certa burocracia.  (Maldivas/ Sarah Ackerman)

Até os paraísos têm regras. (Sarah Ackerman / Creative Commons)

Maldivas – O visto de 30 dias é emitido na chegada, gratuitamente, para todos os visitantes. É preciso apresentar passaporte, comprovante de passagem de volta e de fundos suficientes para permanência no país (150 dólares por dia ou confirmação de reserva em hotel ou resort).

*informações atualizadas até agosto de 2013


Kumusta?

Viajar para culturas muito diferentes é um intensivão de mímicas de deixar qualquer curso de teatro nas tsinelas. Sai formado, no mínimo, em Avançado 2. Agora imagina a epifania de perceber que pode ser mais fácil se fazer entender nas Filipinas que na Hungria. Pois é.

Bem antes de a viagem começar, entrei em contato com várias representações diplomáticas para começar o entrosamento. A empatia com as Filipinas foi tão grande que só depois entendi existir algo além da extrema simpatia do pessoal de lá. Gente, é um Brasil do outro lado do mundo.

Reprodução de imagem do Museu Nacional das Filipinas. Qualquer coincidência é mera semelhança.

Reprodução de imagem do Museu Nacional das Filipinas. Qualquer coincidência é mera semelhança.

História: navegador ibérico procura rotas alternativas de comércio no Século 16 e “esbarra” em uma terra nova. Os invasores começam a impor sua cultura aos nativos locais que cultuavam deuses da natureza, e a população torna-se essencialmente católica. Após séculos de domínio, a República é proclamada no final do Século 19, mas quem manda depois são os Estados Unidos até um novo basta já no Século 20. Só troca portugueses por espanhois e pronto.

Aí sou apresentada a algumas palavras usuais do vocabulário filipino (sem tradução para não ficar ridículo): otel, karne, edukasyon, sapatos, syampu, sabon, ospital e as tais tsinelas.  Kumusta, claro, é como perguntam se está tudo bem.

Filipinas é amor.


A Índia nossa de cada dia

O lugar que deu origem ao Kama Sutra proíbe beijos em filmes. Abriga um dos homens mais ricos do mundo (o industrial Mukesh Ambani), mas é a casa de centenas de milhões que vivem muito abaixo da linha da pobreza.

Particularmente, vejo que o maior contraste da Índia está no fato de o país ser uma grande democracia, berço de filosofias lindíssimas, e manter um ainda rígido sistema de castas. Por mais que as castas baixas estejam conquistando espaço nas últimas décadas (sim, já existem dalits milionários!), a estrutura é milenar e as mudanças vêm a passos lentos, especialmente no interior do país.

Meninos dalits no Rajastão (Malteser International / Carmen Wolf)

Meninos dalits no Rajastão (Malteser International / Carmen Wolf)

O curioso é que hoje, enquanto lia o ótimo Os Indianos, da jornalista brasileira Florência Costa, me ocorreu que esse mesmo impasse está, de certa forma, bem na nossa porta. A democracia também é  a regra por aqui e dizemos seguir uma filosofia que prega amar o próximo como a nós mesmos (86,8% da população brasileira é cristã, segundo o último censo), mas ainda temos uma questão racial muito mal resolvida.

Comparando lá e cá, trata-se da mesma porcentagem enorme de excluídos por nascimento (lá por casta, aqui por cor), que têm a mesma dificuldade para arrumar bons empregos que permitam subir na vida. É o mesmo histórico de humilhações. É a mesma demanda por intervenção do Estado para cotas no sistema de ensino e no serviço público. A diferença, de repente, é que lá as coisas são mais escancaradas.

p.s.: só para reforçar que a Índia é aqui mesmo, lembrei que o economista Edmar Bacha apelidou o Brasil de Belíndia em uma fábula lançada na década de 1970 (leis e impostos da Bélgica + desigualdade indiana).


Sozinha

Hoje posso dizer que o maior estranhamento das pessoas não está na viagem em si, mas no fato de eu ir sozinha.

O argumento da segurança eu certamente compartilho. O Brasil está longe de ser o oásis da igualdade de gênero ou dos baixos índices de violência contra a mulher, mas sabemos como pode piorar lá fora.

Quanto a isso, só me resta seguir os conselhos que li e ouvi às toneladas: usar roupas largas, não olhar nos olhos, não andar sozinha à noite, não dar risada (!), não ser simpática (!!), andar com aliança, dizer que está indo encontrar seu marido, dizer que é professora. Resumindo: não ser eu.

Ok, eu posso vestir um personagem. O que não posso é deixar de ir por medo. A Flora, do ótimo Flora The Explorer, resume bem essa sensação:

“Violence against women is sadly something that occurs the world over. Whether in the cityscapes of a country you’ve never thought to visit, or on the street you grew up on, there will always be tragic incidences like this. But, as women, it’s up to us to face these situations head on, and accept that while there is danger and fear from outside, there is also strength and confidence from within.

Shying away is not an option when it conflicts with doing what you love.”

Isso dito, vem a parte do estranhamento das pessoas com a solidão por opção. Nos últimos anos, consegui viajar sozinha duas vezes, o que nem sempre é fácil quando precisamos atender as pessoas que amamos. Fiquei quase um mês na Bolívia/Peru, e depois duas semanas na Itália.

O mecanismo da coisa toda é meio bipolar. Ao mesmo tempo que ficamos uma esponja para as coisas de fora, é um intensivão de autoconhecimento e de testes para nossos próprios limites. Talvez por isso seja tão difícil pensar na ideia, mas vale o exercício.

Outro fato curioso é que a condição de estar sozinho é muito relativa. Em quase 80% do tempo estamos interagindo: com vendedores, guias, garçons, motoristas, pessoas no ponto de ônibus, gente almoçando na mesa do lado, amigos que fazemos pelo caminho… No final, estar sozinho acaba sendo um para-raio de atrair gente (boa, na grande maioria), e esse é um dos maiores bônus.

Acho que por isso Into the Wild foi um filme tão marcante. Mais que uma narrativa sobre um viajante solitário, ele mostra que as maiores experiências vêm do contato com pessoas que encontramos durante a jornada. E que a felicidade só é real quando compartilhada.

 

 

p.s.: inicialmente eu tinha colocado imagens dos melhores encontros do Into the Wild. Mas por que ficção se podemos usar a vida real, né?

 


Evitando ter um treco

vacina

Agora chega, né moço?

Bom, enquanto a dita cuja não chega, vamos falando dos preparativos.

Quando decidi ir para a Ásia, as questões de saúde começaram a piscar com luz neon na     minha cabeça. Quem quer passar mal em países desconhecidos, com doenças desconhecidas, sem saber direito como funciona o esquema médico? É isso.

Comecei a olhar tudo com antecedência de seis meses por três motivos cabais. 1) A agenda dos bons médicos não é tão liberada assim para consultas e retornos de exames (e vários exames demoram para ser marcados, especialmente os de imagem); 2) algumas vacinas precisam de um tempinho razoável entre uma dosagem e outra; 3) tinha que passar um pente fino entre os preços e coberturas dos seguros de viagem disponíveis no mercado (e nos feedbacks dos usuários pela internet).

Aos fatos.

Médicos: é interessante pedir ao profissional de maior confiança a indicação de remédios para fazer um kit básico e também as receitas para fazer estoque dos mais complicados, como os antibióticos. E é bom levar tudo em boas quantidades, pois cada país tem um esquema próprio de venda em balcão sem pedido médico. Em uma pesquisa rápida, vi que é raro um país tão automedicável quanto o Brasil.

Vacinas: o sistema público de saúde de várias capitais tem atendimento especializado aos viajantes. Você liga, marca uma consulta com um infectologista, e ele diz os cuidados que você deve tomar para ir a determinada região. Em Brasília, o Ambulatório do Viajante fica no HRAN (Telefone para agendamento: 3325-4362). A minha consulta foi ótima. Não houve espera e o médico era super preparado (não lembro o nome dele, mas tinha bigode!). É bom levar o cartão de vacinas, pois da consulta você já é encaminhado para vacinação na hora mesmo.

Seguro de viagem: quem tem cartão de crédito poderoso pode ter cobertura gratuita, o que não é meu caso. Ainda estou olhando as opções de mercado, mas a empresa que parece ser a queridinha dos mochileiros é a dinamarquesa World Nomads. A blogueira da Abril Adriana Setti já tinha feito um post sobre eles em 2008, e falou novamente quando precisou usar, em 2010. Fiz um orçamento no site e achei tudo bem simples de entender, com boa cobertura, mas continuo pesquisando.

Aviso aqui sobre a decisão!