O pior dos vermelhos 2

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(continuação do post de ontem)

Lembra da Indochina turbulenta no pós-Segunda Guerra? Pois é. Assim como o Laos, o Camboja também tornou-se independente da França em 1953 e também voltou ao regime monárquico. Mas diferentemente do vizinho, que apoiou a ofensiva anticomunista dos EUA, o rei Sihanouk passou uns bons anos em cima do muro, tentando se equilibrar entre disputas internas e externas.

Foi nesse cenário instável que um golpe militar pró-EUA assumiu o Camboja em 1970, destronando o rei e marginalizando os crescentes comunistas do Khmer Rouge. A corda bamba política estourou de vez cinco anos depois, quando os vermelhos chegaram ao poder (de novo, igual ao Laos). Só que enquanto no vizinho esse processo significou relativa paz, no Camboja foi o começo do fim.

Apoiado em interpretações muito peculiares dos ideais comunistas, o Khmer Rouge, liderado pelo ex-professor Pol Pot, aboliu escolas, religiões, família e qualquer outro conceito de cultura ou de coletividade conflitante com a “causa do proletariado”. Seu exército foi recrutado entre jovens miseráveis sem qualquer perspectiva, servidos com explosiva lavagem cerebral de ignorância, ódio e promessa de futuro melhor. Foi esse exército de esfarrapados que invadiu e esvaziou as principais cidades cambojanas em 1975, mandando todos os moradores para trabalho forçado no campo. Possíveis ameaças ao sistema (aqui inclusa a habilidade de falar outra língua ou ter diploma superior, por exemplo), eram eliminadas nos campos de morte. Um dos slogans do regime: “Melhor matar um inocente por engano que poupar um inimigo por engano”.

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Pol Pot

Hoje sabe-se da existência de 300 campos de extermínio e estima-se que 3 milhões de cambojanos morreram ou foram mortos na época do Khmer Rouge, média de um em cada quatro habitantes do país. Os assassinatos coletivos aconteciam durante a noite. Os prisioneiros eram descarregados dos caminhões em áreas remotas e levados um a um para a beira das valas coletivas, onde eram mortos com ferramentas agrícolas (não havia dinheiro para balas de revólver). No campo de extermínio Choeung Ek, perto de Phnom Penh, roupas e ossos ainda brotam da terra quando chove muito.

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O Khmer Rouge foi destituído do poder em 1979, mas nada muito sério não. Os principais líderes se isolaram na fronteira com a Tailândia e lá viveram uns bons anos de tranquilidade. Pol Pot morreu oficialmente de ataque cardíaco em 1998. Quatro dos maiores mentores, hoje velhinhos caquéticos, estavam sendo julgados por uma corte especial até pouco tempo.


4 Comentários on “O pior dos vermelhos 2”

  1. André Richter disse:

    Nao quer vender essas infos preciosas pra Gloria Maria?! Haha..ela ta aqui fazendo Globo Reporter sobre Mianmar! …

  2. Max disse:

    Isso aí, cara amiga.
    Intolerância, ganância, vingança, insanidade, ódio, barbárie… travestidos de ideologia. Uma triste história que se repete em todos os cantos do mundo, mostrando o pior lado de nossa desumanidade.


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