Kong Lor

20140523-162108.jpg

Eu já estava rendida. Há muito elegi o Laos top destino belezas naturais (e olha que venho do mesmo país do Jorge Ben).

Mas não satisfeito com os rios de toda gama de cores; não satisfeito com as cachoeiras e lagos cênicos em azul turquesa; não satisfeito com as incríveis formações rochosas calcárias, que despontam das planícies em contornos inusitados; não satisfeito com a infinidade de verde preponderante; o Laos foi além.

Não que o país deixe a desejar no quesito cavernas – elas são muitas e estão por toda parte. Mas existe uma que demanda atenção especial. O lugar que pagou cada hora extra em estradas poeirentas, cada chacoalhada em tuktuk.

Um quilômetro separa a microvila homônima do parque nacional. Mal cheguei e me surpreendi com o rio esmeralda que sai da boca de pedra, tão cristalino que dá para ver tudo que os peixes aprontam ali embaixo. O barqueiro esperava lá perto.

20140523-161457.jpg

Barqueiro, porque a caverna só pode ser explorada assim. São cerca de sete quilômetros de escuridão em galerias enormes, uma minimaratona subterrânea percorrida pelo tal rio esmeralda de cabo a rabo. Se você gosta de cavernas mas não é muito fã de suadeira nem de aperto claustrofóbico, Kong Lor é o seu lugar.

Me senti personagem de Julio Verne entrando naquele mundo desconhecido. O dia brilhante deu lugar à escuridão fresca e úmida, cortada apenas pelas nossas lanternas e pelo barulho do motor do barco.

Alguns minutos depois, as pupilas ainda arregaladas pela falta de luz, o barqueiro pára e pede para descer. Vai até uma caixa, e do breu total brota uma floresta de estalactites e de estalagmites. Estrategicamente iluminadas, elas são facilmente acessadas a pé, algumas com mais de metro de diâmetro.

20140523-161340.jpg

De volta ao rio, seguimos caminho caverna adentro. O barqueiro ri das minhas exclamações em voz alta, aparentemente acostumado com esse tipo de reação. Cerca de uma hora depois, as paredes mudam do negro para o cinza. Chegamos do outro lado, onde a boca de luz abre novamente para receber o rio.

Já no caminho de volta, apagamos as lanternas e fabricamos um grande nada com barulho de água corrente. A sensação não é de estar em um útero, como já experimentei em andanças pelas cavernas brasileiras, e sim flutuando no grande vazio universal.

p.s.: Dizem que as cavernas do Vietnã são ainda mais impressionantes. A conferir.