Foto

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Ao contrário do que possa parecer, essa foto não estava pronta para ser tirada. Essas meninas não estavam posicionadas assim, “venha turista”, esperando que eu apontasse a máquina.

Essa foto não teria acontecido se eu não estivesse viajando do meu jeito, sozinha e com tempo para sair do circuito turístico usual. Se eu não tivesse acordado em um dia bom, dispensando o tour de carro e achando que tinha condições de pedalar 60 quilômetros ida e volta para o interior do interior do Laos. Não era apenas economia, era ter tempo sem um guia me importunando. Não era apenas disposição, mas a inabilidade de pilotar uma moto.

Essa foto não teria acontecido se eu não estivesse exaurida, carregando a bicicleta no empuxe, bem na hora da saída da escola. Se a vila não fosse pequena o suficiente para malemá saber o que é turista. Se o fluxo de centenas de rostinhos que passavam por mim não estivessem transmitindo tanta esperança em um mundo melhor que deu até vontade de chorar. Se, talvez percebendo meus olhos cheios d’água, um grupo de meninas curiosas não tivesse começado a caminhar na minha volta entre risinhos tímidos. Se não estivéssemos indo para a mesma direção.

Não teria acontecido se eu não fosse péssima em mímica, e elas ótimas em rir. Se não tivesse uma máquina modernosa de câmera reversa que permite ver como vai sair a foto, e quantas tiramos juntas. Se elas não se deixassem fotografar sozinhas e saíssem correndo, como tanto vi acontecer com turistas afoitos por aqui.

Essa é a história dessa foto.

p.s.: aos que apostaram contra a pedalada de 60 quilômetros, estão cobertos de razão. Fomos rebocadas no meio do caminho de volta, eu e bicicleta, confiantes na boa vontade de uma família local que passava de caminhonete.