Sobre parar e continuar

IMG_7995.JPG

Saí para almoçar sem decidir. O próximo destino, tão instintivo até aqui, parecia engasgado. Tinha os 10 meses exaustos de estrada. Tinha a China imensa e demolidora do último mes. Tinha a Mongólia soando meio inóspita demais como próximo destino (se bem que a história do visto liberado pareceu alvissareira – leia isso se considera conhecer o país até 2015).

Foi nesse cenário que nos esbarramos na recepção do hostel, ele ainda voltando da noitada anterior. O doutor portorriquenho não está viajando há dez, mas nove meses. Acabou de vir da Mongólia, e antes do Oriente Médio e da África. Me presenteou seu guia do último destino, além de depoimentos empolgados e dicas que não chegariam de outra forma. Também me emprestou afinidade e brilho nos olhos que andavam preguiçosos com isso de colocar a mochila nas costas.

Sentados na sarjeta em frente ao hostel, entre blocos de anotação, folders e telefones, nos mostramos marcas da viagem – eu uma tatuagem preta média na perna depois de uma picada de mosquito infeccionada no Camboja; ele um pedaço de pele extirpado enquanto explorava a Mongólia a cavalo.

Praguejei contra a sinusite bacteriana que me atropelou nas duas últimas semanas. Confessei o pranto desconsolado enquanto derretia de febre no sotão de um albergue no interior da China. Ele disse que não sabia o que era chorar até pegar malária em Moçambique. Ficou 18 dias doente,12 achando que ia morrer, não tinha vaga no hospital. Falou do pânico que foi perder a noção de quem era por alguns minutos enquanto tentava comprar remédios. “Só pensava que aquilo ia me fazer mais forte e virar uma história de viagem”.  
 

– Mas sério, estou cansada.

– Eu também. Já considerei parar e voltar quando der.

– Também. Mas alguma coisa continua dizendo para continuar.  

– Foi tão complexo o processo de separar esse ano, de finalmente estar aqui, que parece meio ridículo desistir agora. Até porque, que depois é esse? Quem garante que amanhã eu posso voltar? 

Ninguém garante, dizem os jornais.


6 Comentários on “Sobre parar e continuar”

  1. Marília disse:

    Dé, como você tá? Aproveita para ficar boazinha, o corpo precisa de equilíbrio assim como o espírito. Espero que fique boa logo para continuar nessa reta final. E se não puder continuar agora, vai poder voltar sim quando quiser, o maior passo você já deu. Achei excelente a reflexão sobre o Into the wild, toma tua experiência pro seu benefício, seja ele continuar ou parar quando necessário. Beijo grande! =*
    OBS: assustadora essa história de malária em Moçambique!

    • deborazampier disse:

      Oie, estou melhorando a cada dia, obrigada por perguntar! Pois é, eu sei que passa a impressão que viajar é só férias porque geralmente só mostro e conto as coisas legais e aventureiras , mas esses meses todos foram super demandantes, sinto mesmo que cheguei nos meus limites e preciso parar antes de pifar de vez. Tanta vida para aproveitar ainda! Bjbj

  2. Aline disse:

    falta pouco! fica firme… bjs

  3. Lívia disse:

    amoreeee quanto tempo sem ler esse blog incríiiivel! saudades imensas! adorei o post! força! smack!


Comentários aqui!