Um dia em um ashram hindu

O fim da tarde se aproxima na beira do Ganges. Em Rishikesh, mais de 200 quilômetros ao norte de Delhi, as águas recém saídas dos Himalaias passam cristalinas e caudalosas. Os internos do ashram se acomodam na parte de cima da escadaria que dá acesso ao rio, enquanto pessoas de todas as nacionalidades começam a chegar para o ritual diário de saudação ao Ganga. Para os indianos, ele é a manifestação da própria divindade.

Cheguei cedo e consegui um bom lugar, próximo à caixa de som e com visão panorâmica do rio, do por do sol e da cerimônia. Vestidos de laranja, os jovens do ashram entoam os primeiros versos do primeiro mantra, embalados pelos acordes hipnóticos do harmônio, pelo batuque aquoso da tabla e pelo leve timbre de sininhos.

A fogueira das ofertas é acesa, e os indianos se aproximam para participar mais ativamente da cerimônia, enquanto os estrangeiros se dividem entre tirar milhares de fotos e observar tudo atentamente. O sol se esconde entre a neblina das montanhas do outro lado do rio.

Já na segunda metade do Ganga Aarti, todos de pé: o guru do ashram aponta na escadaria. A presença magnética é reforçada pela vasta cabeleira e o manto laranja. O olhar dele cruza com o meu, e temo ter questões mundanas demais em mente quando ele passa rápido pelos meus pensamentos.

O Swamiji começa um novo mantra, e a voz firme e límpida preenche todo o espaço. Fechar os olhos e ouvi-lo entoando o Hare Krishna é sentir uma forte conexão com o universo, independentemente de crenças. Todas as religiões são bem vindas aqui, inclusive nenhuma delas.