A minha China

Depois de tanto tempo na estrada, relativizei o mês seguinte e achei que seria mais um. Que entraria e sairia com uns exotismos para contar e só.

Eu que pensava saber de antemão das multidões, das metrópoles, da potência econômica, do rolinho primavera, precisei formatar e reiniciar várias vezes para equilibrar a equação espírito aguçado/corpo desgastado. Porque diferentemente das ex-colônias visitadas até ali, a China continental é Oriente puro, complexa demais para dar muita brecha à globalização.

As atrações turísticas viraram mero liga-pontos entre situações inusitadas de eficácia comprovada. Ficar presa no engarrafamento de gente, chegar a uma cidade inundada, esperar dez horas por um trem, tudo fazia sentido porque eles, os chineses, estavam comigo. A sempre idealizada vida do outro lado do mundo acontecia bem do meu lado.

Confesso que esperava uma interação mais difícil, nosso contato até então limitado às notícias de jornal e às chinatowns. Mas se as novelas estão certas, enganos desfeitos são os melhores catalisadores para histórias de amor. O coração transbordava quando eles se aproximavam com o inglês meio roto, tímidos quando não encontravam a palavra certa. “Queremos que os visitantes sintam-se bem-vindos”, era o que ouvia a cada nova gentileza sem cabimento. A professora fascinada por novas culturas disse que sair dali é difícil, então o melhor é esperar que a gente vá e continue voltando.

É interessante pensar que a China está por toda parte, mas não o inverso. Além de incompreendidos (ou falsamente entendidos), as peculiaridades locais tornaram os chineses continentais essencialmente doceis e domésticos, mas não ensimesmados. São curiosos, interativos e pensantes, especialmente quando percebem que a recíproca é verdadeira.

De tão encantada, quis trocar o resto de Sudeste Asiático pela dobradinha Coreia do Sul/Japão. Não deu tempo, a China me engoliu só para ela.

Nas fotos aí embaixo, nossos melhores momentos e a nostalgia de um mês.

***

p.s.: não se dê por satisfeito com as “chinas” de Nova Iorque, Londres ou São Francisco. Pegue sua mala e vá ao cerne da questão, porque ali a história é outra.

p.s.2: Time explica aqui como o V virou uma instituição nas fotos asiáticas.

 

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5 Comentários on “A minha China”

  1. Aline disse:

    tá gravado no seu coração! rs.. e essas crianças?! deve ser um sonho dar aulas para eles.. bjs

  2. Livia disse:

    Como sempre, escrevendo lindamente! Me emocionei! Smack!


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