O resort mais estrelado do mundo

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Cheguei ao meu extremo oeste da Índia, onde encontrei Jaisalmer. Poderia falar do charme da cidade que ganhou o apelido de dourada, mas na verdade é amarela. Poderia falar da importância histórica como entreposto comercial rumo à Ásia Central nos tempos antigos, e também do atualíssimo significado geopolítico no eterno climão com o Paquistão.

Poderia falar do único forte que conheci tão ou mais vivo que na época da construção, no Século 12. Lojistas e moradores estão em cada ruazinha labiríntica da cidadela murada, tentando chamar a atenção dos turistas como podem. Já viu um castelo/palácio/forte todo formal em seu tombamento e pensou: “Como deveria ser isso nos tempos áureos?”. Pois em Jaisalmer tudo continua assim, bem áureo, bem dourado.

Mas o destaque deste post não está exatamente em Jaisalmer, e sim no seu vizinho – acredito eu, responsável por influenciar diretamente tudo que diz respeito à cidade: o deserto de Thar.

Nos últimos dois dias, passei por incontáveis paisagens do lugar famoso pelas secas que podem durar até sete anos, mas desta vez relativamente vivo e verde, resultado das chuvas que caíram em agosto último. A visão limpa dos cenários a desbravar favorecida pela companhia do líder entre os camelos do grupo – que não hesitou em morder a perna do rebelde que ousou ultrapassá-lo.

Ali fiz amizade com o guia que diz ter 25, mas aparenta 40, cujos maiores orgulhos são o bigode estilo marajá nunca raspado e jogar polo (de camelo, claro) contra o time do exército uma vez por ano. Sempre puxando uma música esganiçada pelo caminho, riu de mostrar todos os dentes quando eu disse que no Brasil poderíamos formar uma dupla sertaneja, Del Boy e Débora. Ele diz rezar todos os dias para conseguir dinheiro e viajar pela Índia. É o seu maior sonho.

Ali conheci os meninos ajudantes que acreditam ter um futuro mais promissor se deixarem de ir à escola para aprender como levar turistas e seus dólares/euros para o deserto.

Ali ajudei a cozinhar e a fazer pão numa fogueirinha improvisada no chão. Para quem me conhece, inusitado é pouco.

Ali brinquei com um cabritinho que havia nascido há uma hora, ainda tentando dar os primeiros passos com as perninhas tronchas.

Ali vimos o sol descer como uma laranja pelas dunas.

Ali esticamos nossas cobertas sobre a areia fina, acima de nós apenas o céu. Sempre que estava quase pegando no sono, acordava sobressaltada tentando não perder um segundo daquela visão celestial, redundando entre o literal e o poético.

Aos meus amigos que adoram os cinco estrelas, me desculpem… prefiro a companhia de milhões delas.

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