Minha Delhi e as cabras

Finalmente conheci Delhi (aquela Delhi). Ela estava na antiga parte da cidade, que já passou por tudo: construções, conquistas, saques, reconstruções. Hoje é mais ou menos assim, segundo o primeiro vídeo da Mundolândia’s Production:

Delhi tem duas partes bem definidas. A nova é onde eu estava ontem: avenidas largas, limpas, espaçosas e arborizadas, tudo mais fancy, segundo os locais. Já a antiga é aquela avalanche de tudo: gente, cheiros, animais, comércio, carros/rickshaws/motos. O único link que encontrei entre as duas foi a buzina – aqui, um estilo de vida.

Já era fim de tarde. Eu estava ensopada porque usava casaco + xale sob um sol escaldante para tentar não chamar atenção. Comi pouco no almoço para fugir da pimenta e do exótico e acabei faminta. Absorvia lentamente o calor e o excesso de informações, juntando energias para me manter alerta (o preço justo por estar sozinha).

Naquela hora, tinha acabado de visitar um dos minaretes da maior mesquita da Índia, degrau por degrau. Saí calçando as botas meio zonza, ouvindo as primeiras rezas no alto falante, quando percebi que caí em uma enorme feira de cabras que cercou o templo.

Debaixo de centenas de tendas abafadas em forma de labirinto, eram milhares de cabras espalhadas por todas as partes. Donos suados de cabras, cheiro de cabras, berro de cabras, chifres de cabras. Cabras apanhando de vara para mostrar que estavam saudáveis. Eu tropeçando nas cabras. A bota afundando no barro, no feno e nas necessidades das cabras.

O final apoteótico de um dia inesquecível com a velha Delhi.

p.s.:  vacas, cadê vocês?