Agora sim
Publicado; 15/07/2014 Arquivado em: Vietnã 2 Comentários
Eu e “Ma’frend”, alvo favorito das beijocas
Depois do fiasco no norte da Tailândia, prometi que tours guiados para vilas de minorias étnicas nunca mais. E foi justamente para suprir artificialmente esse lado que tirei uma tarde em Hanoi para conferir o Museu de Etnologia, dedicado às tribos do Vietnã. Mas o tiro saiu pela culatra. Concebido em parceria com a França, o museu é tão maravilhoso que deu ainda mais vontade de estar lá ao vivo.
E também teve a recomendação de um casal de holandeses que conheci semanas antes. Apesar de o circuito Sapa ser bem batido, disseram que existe uma ONG lá promovendo a feliz associação entre educação e turismo, argumento final para me decidir.
O tour começou com um enxame de mulheres hmonng e seus chapeuzinhos coloridos rondando o grupo ao som de “buy something”, “you some shopping”. Aparentemente as senhorinhas desconhecem negativas e nos seguiram por horas arrozal adentro. A dupla de professoras australianas não aguentou e compra bolsas. Eu abracei e beijei cada vez que as mãozinhas se estendiam na minha direção oferecendo algo. Assim continuamos amigas dividindo guarda sol e jogando conversa fora (o nível de inglês é incrível).
A menina nos recebeu na casa onde iríamos passar a noite – os pais estavam na vila comprando o banquete que seria preparado no fogão a lenha mais tarde. Depois do chá, fui ver os porcos, visitei a casa onde vivem a família da irmã e a mãe da anfitriã, pulei cama elástica improvisada com as garotas da vizinhança em uma árvore seca no chão ao som de cantigas Vietnã-Brasil. Tomei vinho de arroz com as comadres (a garrafa sempre embaixo da mesa), e já explodindo de comida boa e de gargalhadas, fui levada a um banho tradicional com ervas medicinais em infusão. Essa noite dormi o melhor dos sonos, com barulho de mato passando pelas finas paredes da casa.
Depois da pulação e da cantoria
No dia seguinte, no caminho entre novos arrozais entalhados nas montanhas, a guia contou que sua amiga sumiu há dois anos, provavelmente raptada para trabalhar como prostituta. As australianas fizeram o dever de casa e contaram que o mesmo destino espera outras meninas da região. Estar ali contribuindo com a educação delas passou a ter um novo sentido.
Com mais esse retalho do caleidoscópico Vietnã, me despedi rumo à China.
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Protagonista da guerra que levou seu nome, o Vietnã curiosamente é o país que menos lembra esse passado de privação e de sofrimento. A sensação é de que tudo já virou peça de museu, inclusive o líder máximo da vitória, Ho Chi Minh, que repousa embalsamado em um caixão de vidro aberto a visitação.
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p.s.; realmente são incríveis as cavernas do parque nacional de Phong Nha (lembra da deixa em Kong Lor, no Laos?), e a Baia de Halong merece o título de maravilha do mundo. Mas aqui o humano vale mais que o cênico, por isso Sapa.
Sua viagem já está virando um livro?! Adooooro acompanhar seu roteiro e fico super admirada com a sua maneira de narrar cada um de seus passos. Me sinto um pouco viajando, toda vez que leio seus posts… e fico me lembrando daquela fase em que você planejava, um pouco insegura, a viagem… Fico grata pelo universo, que te deu coragem e me presenteia com esses relatos lindos. São de aquecer o coração! :- )
Que lindo receber essa mensagem Helo, foram realmente tantos meses (ou melhor, anos) de planejamento que às vezes nem acredito que já estou há 9 meses vivendo isso. Que bom que você está viajando pelo blog, é para isso que serve! Beijao! (Queremos livro! Hehe)